FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Dentro dessas possíveis somatórias de tantas identidades, é que reside o corpo.
Orlan vai criando outras fisionomias para sua face. São autoretratos
feitos de carne. Para essas mudanças em seu rosto, a
artista já se inspirou nas imagens de Diana, Psiché, Vernére,
Gioconda, Santa Tereza. Em 1971, a artista se batizou como
“Santa Orlan” (fig. 87), em uma atitude de ironia contra a
sociedade que divide a figura feminina entre madona e
prostituta. De forma iconoclasta, ela foge de tudo que é
imposto por algum tipo de padrão.
Orlan parte do princípio que o corpo é obsoleto. Isto é o
pressuposto de seu trabalho artístico, que se põe contra o
programado, contra Deus, contra o DNA. A Religião e a Psicanálise concordam que o
corpo é absolutamente intocável [...] meu sonho é superar esta intangibilidade do
corpo que o separa da ética comum. 173 FIGURA 87 - Performance da
artista Orlan
FONTE: www.cicv.fr/creation,
2002
(fig. 88)
Entre embates envolvendo a Religião e a
Psicanálise, com a padronização de beleza imposta pela
sociedade, em nosso
entendimento, a artista, passa
FIGURA 88 - Performance da artista Orlan
por um processo de FONTE: www.cicv.fr/creation, 2002.
zoomorficação. Em seu corpo foi aplicado duas protuberâncias
do lado esquerdo e direito da fronte, como se fossem pequenos
“chifres”. Essa é sua imagem atual (fig. 89).
FIGURA 82 – Foto de Orlan,
2002.
Depois de tantas metamorfoses faciais, a artista vem
FONTE: www.cicv.fr/creation,
2002.
criando outras identidades fisionômicas para seu corpo. Corpo
que parece já estar em processo de analgesia. E nós, como espectadores e receptores de
suas performances, ficamos esperando, indagando: qual será o próximo auto-retrato de
Orlan?
O uso do corpo como suporte de expressão artística, nos remete a práticas que
remontam aos tempos antigos, usadas pelo homem em seu curso histórico-cultural. Essa
arte, recebe reflexos pendulares que batem em histórias de oferendas religiosas, rituais,
sacrifícios, orgias canibalísticas, além de infinitas outras práticas primitivas. Sabemos
173 Texto disponível em www.univer.it 07/04/2002. Tradução: Marcílio Duarte Jr.