FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

natural (fig. 12), contando com uma
atmosfera meio escura, devido a pouca
iluminação. Essa sala de promessas
natural dá passagem ainda para a gruta de
Santa Luzia, onde a imagem da santa
surge sobre um estalagmite que se
levanta junto a uma piscina de águas
FIGURA 12 - Santuário de Bom Jesus da Lapa – BA. Entrada da Gruta
Fonte: Acervo fotog. Aninha Duarte.
naturais. Muitos romeiros enchem
garrafas de águas para serem benzidas.
As salas de promessas, de um modo geral, parecem exercer um papel de
propaganda dos milagres. De certo modo, funciona como uma contra-reforma, tendo
como veículo a religiosidade popular, que é divulgada pela oralidade dos crendeiros,
reforçada pelo número excessivo de objetos votivos.
O rebuscamento desses espaços dos milagres, forma um auto-retrato que emoldura
o homem atormentado do século XXI. Essas imagens votivas mostram as convulsões e
paroxismos do homem contemporâneo, vivendo em estado de andrajos, material e
espiritual. O conjunto e a diversidade desses objetos evidenciam os conflitos da
atualidade. Eles nos dizem de êxtases religiosos, medos, amor, da necessidade visceral
de vencer doenças físicas e mentais, de buscas de sobrevivência econômica, de êxitos
profissionais, além de outras questões que estão exaltadas nessas imagens.
Essa imagética permite-nos ainda perceber as mudanças que vão ocorrendo na
cultura religiosa dos romeiros e as modificações na mentalidade dos dirigentes
eclesiásticos, refletindo os anseios de uma sociedade de consumo, marcada pelo
desenvolvimento industrial.
A visualidade votiva, marcada pelo exagero, pelo excesso e trasbordamento da
religiosidade, forma um cenário vivo do imaginário dos promesseiros. As salas de
promessas guardam essa explosão de objetos, dão aos espaços um clima meio
patológico, vertiginoso, caótico, que em nosso entendimento está conectado a algumas
características filosóficas dos ecos ampliados do sentido barroco. Por outro lado, de
forma antitética, são também imagens buriladas de poesia, de amor, criadas pela
engenhosidade dos crendeiros. Por fim, esses conjuntos são representações sinestésicas
que delineiam a férvida fé popular.
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