FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

de destratar os santos. Prova disso, o Brasil assistiu por rede televisiva, pela Rede
Record, o bispo da igreja universal chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida,
encenando que o culto a santos não faz parte de sua crença religiosa. Aqui encerramos
essa reflexão, não por ser menos significativa, mas pelo fato de nossa prioridade ser os
santos que recebem como pagamento de benefícios “ex-votos”.
Pelo senso comum da fé popular vão sendo eleitos os santos tidos como
“forçosos” em determinados tipos de curas e outros tipos de aflições. Cada um na sua
área, torna-se famoso por suas especializações. Assim como temos o médico específico
para determinados assuntos, existem também os santos especialistas: Santa luzia -
doenças dos olhos, São Sebastião - feridas, São Lourenço - queimaduras e dos dentes,
São Bento - picada de cobra, e outros.
Os santos considerados “peritos” em determinadas curas, geralmente têm sua
especialidade ligada diretamente com a causa de seu óbito, ou com os sacrifícios que
sofreram em vida. Após a morte, voltam para livrar as pessoas dos mesmos males que
os atormentaram em vida, seja físico ou mental.
Tomamos o caso de São Sebastião como exemplo: tido como um dos maiores
santos mártires de devoção portuguesa e brasileira, foi condenado à morte por não
querer renunciar à sua fé cristã. Amarrado numa árvore teve o corpo atravessado por
flechas. Salvando-se desses ferimentos, foi condenado pela segunda vez: foi morto por
espancamento. A história de São Sebastião é bastante respeitada na devoção popular,
sendo também um dos temas preferidos dos pintores do Renascimento. O martírio de
São Sebastião foi retratado por, entre outros, Bernini, Botticelli, El Greco. Em geral, o
santo é mostrado como um belo jovem, com o corpo coberto de flechas. Na Religião e
na Arte, a presença desse santo mantém-se viva, em representações nos desenhos do
artista contemporâneo como Mário Zavagli e recentemente homenageado na canção
Sebastian, nas vozes dos cantores Gilberto Gil e Milton Nascimento.
O transbordamento de crenças que deram o clima da espiritualidade do Brasil
colonial legou à atualidade, o grande gosto pela religiosidade católica popular,
conservando como linha norteadora o culto aos santos, criações de ermidas e santuários,
peregrinações, festas, procissões, promessas e milagres.
Pesquisas, tais como a de Souza, mostram que as devoções populares no Brasil
atravessaram os séculos, crescendo e reinventando-se. Devoções introduzidas e
adaptadas no século XX por diversos motivos, como São Judas e Santa Edwirges, tem
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