FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Mesmo com a ausência da forma fálica, o espaço vazio alude ao corpo feminino. O
mapeamento do tronco, a simulação sutil dos seios, nos levam a fazer tais
considerações. Dessa maneira estamos diante de um ex-voto que, arriscamos dizer,
andrógeno. Apesar dessa identidade meio paradoxal, a peça possui tamanha
sensualidade primitiva. Para efeito de comparação, trazemos outra escultura também de
corpo inteiro (ver fig. 58) para facilitar a compreensão da análise.
A partir da peça em questão, passamos a pensar sobre a assexualidade presente
nesses ex-votos, através dos milhares de pés, braços, mãos e outros órgãos internos e
externos, que não fornecem referências, pistas, subsídios, para afirmarmos se são partes
do corpo masculino ou feminino. Podemos apenas afirmar, até certo ponto, que são
réplicas do corpo humano, de adultos ou de crianças.
A não identidade dessas imagens nos remete à dualidade, à sexualidade ambígua,
mensagens enigmáticas que transmutam as formas orgânicas do homem e da mulher.
Em outra direção, temos ainda os ex-votos artesanais, que são valiosíssimos
objetos que datam dos séculos XVIII e XIX. Temos um requintado mobiliário,
composto de mesas, cadeiras e armários de vários estilos. Peças litúrgicas, ostensórios,
cruzes de ouro, além de uma grande variedade de alfaias (jóias sacras). Geralmente
tornam-se peças de museus. (fig 75 e 76)
Após fazermos reflexões mais
detidas sobre os ex-votos artesanais,
FIGURA 75 – Jóias votivas em ouro e prata. Séculos XVIII e XIX.
Museu de Ex-votos. Santuário N.S. Bonfim, Salvador – BA, 2002.
bidimensionais e tridimensionais, podemos afirmar
que tivemos acréscimos ímpares ao transitarmos por
terrenos movediços e florestas cheias de cipoais. É
assim que lemos a geografia do universo votivo.
Mesmo sabendo que esses objetos foram criados
FIGURA 76 – Ostensórios e Cruzes em ouro e prata.
Séculos XVIII e XIX.
Museu de Ex-votos. Santuário N.S. Bonfim, Salvador –