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FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Na Arte<br />

120<br />

Numa ótica realista e também ficcional, o artista já representou o corpo a partir de<br />

plurívocas formas de expressão. O recorte contido nesse texto privilegia alguns<br />

momentos <strong>da</strong> Pintura e <strong>da</strong> Body Art, em tempos e espaços diferentes, buscando a<br />

interlocução entre esses dois fazeres.<br />

Inicialmente, o corpo foi apresentado dentro de uma arte figurativa elabora<strong>da</strong>,<br />

primando pela destreza do academicismo rigoroso, que inicia com a exímia construção<br />

<strong>da</strong> forma, se estendendo até ao tratamento pictórico. Nesse sentido, o corpo é idealizado<br />

como uma fonte de beleza e perfeição. A carnação cheira à ordem apolínea, as formas<br />

são organiza<strong>da</strong>s e compostas para buscar a imagem e semelhança de Deus. Nesse<br />

sentido, o corpo torna-se corporificado, celestial, eterno, protegido e imortalizado. Esse<br />

era o corpo encomen<strong>da</strong>do pelos clérigos e pela nobreza na Renascença Européia,<br />

enquanto imagem e ideal. O conflito dessa idealização apolínea recebe, possivelmente,<br />

as primeiras trincas, mostrando o corpo mais dionisíaco, ain<strong>da</strong> dentro desse mesmo<br />

período, através do trabalho de Michelangelo.<br />

No sentido oposto a isso, a representação <strong>da</strong> figura humana, a partir do período<br />

Barroco, e até chegar à contemporanei<strong>da</strong>de, foi sofrendo visíveis modificações, partindo<br />

<strong>da</strong> libertação linear <strong>da</strong> forma e também do tratamento pictórico.<br />

Dessa maneira, o corpo foi perdendo as auréolas, assumindo uma versão terrestre,<br />

humaniza<strong>da</strong>, visceral, orgânica, degenerativa, coisifica<strong>da</strong>, perecível, sujeita à morte. Ele<br />

é também representado, vítima de todos os desatinos <strong>da</strong> Religião, <strong>da</strong> Política e <strong>da</strong>s<br />

transformações sociais. De tal forma se apresenta: esquartejado, auto-flagelado,<br />

crucificado, queimado, torturado, devorado.<br />

Nessa mistura entre o real e o imaginário, vale lembrar que a Arte não inaugura<br />

essas dores do corpo. Ela apenas imprime em sua pele o retrato que o homem tira,<br />

revela e amplia de suas relações individuais e coletivas de seu tempo. Sem amenizar a<br />

reali<strong>da</strong>de, pode-se exemplificar: antes que to<strong>da</strong> pintura religiosa que nos apresenta<br />

corpos sangrentos, fragmentos de corpos mutilados, antes que a religião que encheu<br />

nossos tempos de ex-votos, existia o corpo real, que é cortado e mutilado de ver<strong>da</strong>de,<br />

fragmento de ver<strong>da</strong>de. 165<br />

165 OLIVARES, Rosa. Pe<strong>da</strong>ços de Nós Mesmos. In: Catálogo <strong>da</strong> XXIV Bienal de São Paulo. São Paulo:<br />

Fun<strong>da</strong>ção Bienal de São Paulo, 1998, p. 508.

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