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História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

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Depois <strong>de</strong> alguns anos, o jovem Seguchi<br />

telefonou-me <strong>do</strong> porto <strong>de</strong> Yokohama <strong>de</strong>spedin<strong>do</strong>-<br />

se e partiu rumo ao Brasil. Muitos anos passaram<br />

e eu <strong>de</strong>ixei a vida <strong>de</strong> magistério após quarenta anos<br />

e estava sem ter nada o que fazer.<br />

Certo dia fui surpreendi<strong>do</strong> com uma carta<br />

vinda <strong>do</strong> exterior. Era a carta <strong>do</strong> menino Akifumi<br />

Seguchi, que agora era pai <strong>de</strong> cinco filhos!<br />

-Professor, agora tenho condição <strong>de</strong><br />

convidá-lo como havia prometi<strong>do</strong>. Por favor, venha<br />

conhecer minha esposa e meus filhos, -dizia a carta<br />

que apresentava vestígios <strong>de</strong> lágrimas <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>.<br />

Enviei a resposta e parti imediatamente<br />

rumo ao Brasil.<br />

Depois <strong>de</strong> muitos anos, reencontramo-nos<br />

no aeroporto <strong>de</strong> São Paulo. Não tinhamos palavras.<br />

Abraçamo-nos e <strong>de</strong>ixamos as lágrimas escorrerem.<br />

Ele morava em Pin<strong>do</strong>rama, subúrbio <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Nessa colônia havia uma escola japonesa,<br />

on<strong>de</strong> as crianças estavam apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o idioma<br />

japonês basea<strong>do</strong> nos livros escolares antigos.<br />

Apenas um quadro-negro e giz eram os compo­<br />

nentes da escola. Falei a essas crianças que me<br />

ouviram atentamente, cheio <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

alguma coisa. Então, perguntei ao Akifumi se tinha<br />

algo que eu podia fazer no Brasil. Naquela ocasião,<br />

eu estava trabalhan<strong>do</strong> na orientação <strong>do</strong>s jovens da<br />

província <strong>de</strong> Miyazaki-ken, porém, este cargo<br />

qualquer um podia assumir. Contu<strong>do</strong>, estudar junto<br />

com os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes nipo-brasileiros no Brasil, só<br />

eu conseguiria fazer, pensei. Oportunamente, tive<br />

a notícia <strong>de</strong> que o pensionato <strong>de</strong> Ibiúna estava<br />

procuran<strong>do</strong> um professor <strong>de</strong> japonês. Não perdi<br />

tempo. Escrevi para lá e o meu pensamento já<br />

estava voan<strong>do</strong> ao Brasil.<br />

Minha filha Junko chorou para que eu não<br />

fosse para tão longe. Deixar uma filha na ida<strong>de</strong><br />

matrimonial e partir ao Brasil; isso me <strong>de</strong>ixou muito<br />

preocupa<strong>do</strong>, porém, as minhas mãos já estavam<br />

preparan<strong>do</strong> as malas para viajar.<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sci pela segunda vez no<br />

aeroporto <strong>de</strong> São Paulo, o sr. Massayuki Maeda,<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Centro Cultural <strong>de</strong> Ibiúna, e alguns<br />

diretores estavam a minha espera.<br />

- Entre neste carro, - disse-me o presi<strong>de</strong>nte.<br />

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Eu tinha ouvi<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong>s chefôes <strong>do</strong>s imigrantes<br />

e o sr. Maeda era um <strong>de</strong>les. Seguchi veio me esperar<br />

no aeroporto e <strong>de</strong>u-me um litro <strong>de</strong> pinga. Assim,<br />

acabei voltan<strong>do</strong> ao Brasil.<br />

Comecei uma vida nova no pensionato <strong>de</strong><br />

Ibiúna. Como é bom passar com as crianças.<br />

Principalmente, aquelas que estavam no internato<br />

e longe <strong>do</strong>s pais; elas agarravam-se em mim como<br />

se fosse o próprio pai. Estudávamos e brincá­<br />

vamos juntos. Muitas criança se dirigiam a mim<br />

falan<strong>do</strong> em português, mas eu as respondia em<br />

japonês. Não estava importan<strong>do</strong> com os idiomas;<br />

achava que o importante era a transmissão <strong>do</strong>s<br />

sentimentos.<br />

Ao entar<strong>de</strong>cer, algumas vezes,os quatro<br />

filhos <strong>do</strong> sr. Kenji Sugahara passavam <strong>de</strong> carro pelo<br />

pensionato para me dar um "alô", e entregar<br />

algumas comidas <strong>de</strong>liciosas. Outras vezes, eu<br />

ficava sozinho olhan<strong>do</strong> ao enorme sol que <strong>de</strong>scia<br />

além <strong>do</strong>s morros, algumas meninas vinham<br />

perguntar-me: - professor, está com sauda<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Japão?<br />

Nisso, chegou a temporada <strong>do</strong> "bon-o<strong>do</strong>ri".<br />

A festa que no Japão está em <strong>de</strong>cadência, no Brasil<br />

estava crescen<strong>do</strong>. A torre, to<strong>do</strong>s <strong>de</strong> "yukata",<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas dançan<strong>do</strong> em roda. Fiquei<br />

surpreso ao ver um senhor branco e alto, que tocava<br />

tambor e dançava com gestos um tanto diferente.<br />

Era o prefeito Zezito. Ele era simpatizante <strong>do</strong><br />

Japão; to<strong>do</strong>s aqueles jestos <strong>de</strong>monstravam o fato.<br />

Foi muito diverti<strong>do</strong>, e me <strong>de</strong>ixou inúmeras<br />

recordações.<br />

Ibiúna é a minha segunda terra natal.<br />

Introsei-me na comunida<strong>de</strong> local ao ponto <strong>de</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> passeava pela cida<strong>de</strong>, alguém sempre me<br />

cumprimentava; ora com o sotaque nor<strong>de</strong>stino <strong>do</strong><br />

Japão, ora em português.<br />

Os <strong>de</strong>z meses <strong>de</strong> estadia terminou sem<br />

perceber e chegou a hora da <strong>de</strong>spedida com as<br />

crianças <strong>do</strong> pensionato. Elas perguntavam-me "por<br />

que vai ao Japão?", "vai voltar novamente?", como<br />

se eu fosse uma pessoa resi<strong>de</strong>nte daqui. Estava<br />

preparan<strong>do</strong>-me para viajar, quan<strong>do</strong> o presi<strong>de</strong>nte<br />

Maeda e o diretor Sugahara vieram me transmitir<br />

que o prefeito queria falar comigo. Fui leva<strong>do</strong> à

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