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História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

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RECORDAÇÃO DO<br />

PENSIONATO ESTUDANTIL<br />

SUEKO TODO<br />

No dia 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1964, meu mari<strong>do</strong>,<br />

que era chefe <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Transporte Coletivo <strong>de</strong><br />

Pieda<strong>de</strong>, filia<strong>do</strong> à Cooperativa Agrícola <strong>de</strong> Cotia,<br />

faleceu e graças a solidarieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s coopera<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> Pieda<strong>de</strong>, o enterro foi realiza<strong>do</strong> pela<br />

Cooperativa.<br />

Logo, tive que assumir o lugar <strong>de</strong> chefe <strong>de</strong><br />

família tornan<strong>do</strong>-me uma sócia da Cooperativa.<br />

Passei o cultivo das terras a um meeiro, e <strong>de</strong>diquei-<br />

me à avicultura. No ano seguinte <strong>do</strong> falecimento<br />

<strong>de</strong> meu mari<strong>do</strong>, o sr. Maruo Kawakami fez-me uma<br />

proposta por alto dizen<strong>do</strong>:- Não quer tentar ensinar<br />

o japonês?<br />

Entretanto, em 1966, meus filhos tinham se<br />

forma<strong>do</strong> no primeiro grau e, como tinha que dar<br />

continuida<strong>de</strong> aos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>les, eu estava<br />

planejan<strong>do</strong> em mudar para São Paulo. Justamente,<br />

naquela época a avicultura não andava bem e estava<br />

sen<strong>do</strong> obrigada a tomar uma <strong>de</strong>cisão.<br />

Como houve aumento no preço das rações,<br />

além da escassez na distribuição <strong>de</strong>stes produtos,<br />

e a queda acentuada <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s ovos levou o<br />

meu empreendimento ao ponto crucial. Decidi,<br />

então, aban<strong>do</strong>nar a avicultura e mudar para São<br />

Paulo; durante os preparativos da mudança, o sr.<br />

Kawakami continuou insistin<strong>do</strong> com a proposta.<br />

E, certo dia, fui surpreendida com a visita <strong>de</strong> quatro<br />

diretores <strong>do</strong> pensionato estudantil <strong>de</strong> Ibiúna.<br />

- Viemos hoje, a fim <strong>de</strong> solicitá-la para que<br />

venha ensinar o japonês no pensionato, - disse-me<br />

o representante <strong>do</strong> grupo.<br />

Senti-me perplexa, pois nunca tive<br />

experiência no ramo e a responsabilida<strong>de</strong> pesava<br />

muito. Isso já havia dito ao sr. Kawakami. Então,<br />

a fim <strong>de</strong> evitar uma resposta direta, disse aos<br />

diretores que como se tratava <strong>de</strong> um assunto <strong>de</strong><br />

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muita importância, <strong>de</strong>sejaria <strong>de</strong> ter tempo para<br />

pensar melhor sobre a proposta.<br />

Após os diretores terem se retira<strong>do</strong>, reuni a<br />

minha família e expus o assunto. Minha mãe que,<br />

até então, manteve-se calada, disse:<br />

- De fato é um trabalho <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>. Porém, acho que agora é o<br />

momento para você se realizar aplican<strong>do</strong> tu<strong>do</strong><br />

aquilo que apren<strong>de</strong>u no Japão. Ninguém consegue<br />

atuar perfeitamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. Você po<strong>de</strong>rá ir<br />

se aperfeiçoan<strong>do</strong> enquanto trabalha. Se to<strong>do</strong>s<br />

ficarem satisfeitos com a sua presença, acho melhor<br />

você aceitar essa proposta.<br />

Minha mãe acabou me convencen<strong>do</strong>. Então,<br />

<strong>de</strong>i a resposta afirmativa ao sr. Kawakami e pedi a<br />

ele que me levasse ao pensionato.<br />

E, no início <strong>do</strong> ano letivo em fevereiro <strong>de</strong><br />

1967, minha família mu<strong>do</strong>u-se para São Paulo e<br />

eu fui morar no internato estudantil <strong>de</strong> Ibiúna.<br />

Desta forma, apesar <strong>de</strong> muitas falhas, vim<br />

me <strong>de</strong>dican<strong>do</strong> como educa<strong>do</strong>ra durante 19 anos,<br />

graças aos sr. Kawakami e as palavras da minha<br />

mãe, que jamais hei <strong>de</strong> esquecer.<br />

Naquele dia em que me instalei no<br />

alojamento, a profa. Mihoko Samejima também<br />

veio se instalar ali como professora <strong>de</strong> português.<br />

A profa. Mihoko era uma pessoa calma e muito<br />

meiga.<br />

Quan<strong>do</strong> tive que dirigir minhas palavras aos<br />

olhares brilhantes <strong>do</strong>s cento e tantos novos alunos,<br />

que iam morar juntos no mesmo pensionato, senti-<br />

me tão insegura e trêmula tanto quanto aquelas<br />

crianças qüe, pela primeira vez, tinham que<br />

enfrentar uma vida fora <strong>de</strong> seu lar. A profa. Mihoko<br />

também falou baixinho e abaixou a cabeça<br />

cumprimentan<strong>do</strong> os alunos. Encarreguei-me <strong>de</strong><br />

ensinar ao 2 o , 4 o e ao 5 o ano.<br />

Na manhã seguinte, entrei na sala <strong>de</strong> aula,<br />

escrevi o meu nome no quadro negro e pedi para<br />

que to<strong>do</strong>s lessem juntos e disse a to<strong>do</strong>s:<br />

- Sou a profa. Sueko. <strong>Da</strong>qui em diante,<br />

vamos estudar juntos. Creio que vamos nos dar<br />

muito bem, né.

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