13.04.2013 Views

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

este medicamento a cada seis horas.<br />

Fui ao quarto indica<strong>do</strong> e encontrei uma<br />

criança com o rosto to<strong>do</strong> avermelha<strong>do</strong> pela febre,<br />

<strong>de</strong>itada sobre uma cama. <strong>Da</strong>r remédio a cada seis<br />

horas era um trabalho penoso. Pois, se medicasse<br />

às 19:00 horas, a próxima <strong>do</strong>se teria que ser da<strong>do</strong><br />

a 1:00 hora da noite. Como o número <strong>de</strong> alunos<br />

era gran<strong>de</strong>, se tivesse duas ou mais crianças<br />

<strong>do</strong>entes, era um "Deus nos acuda". Pois, o nosso<br />

serviço não se limitava apenas em aten<strong>de</strong>r as<br />

crianças <strong>do</strong>entes.<br />

Tínhamos que enfrentar também o<br />

problema das crianças que molhavam a cama<br />

durante a noite. Mandávamos ao banheiro antes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>itar, porém, essas crianças molhavam o<br />

colchão antes <strong>de</strong> meia-noite ou uma hora. Todas<br />

as noites fazíamos as inspeções rotineiras e, aquelas<br />

que ainda não haviam urina<strong>do</strong> levávamos<br />

arrastan<strong>do</strong> ao banheiro; aqueles que já haviam<br />

molha<strong>do</strong> a cama, trocávamos os lençóis e as roupas,<br />

virávamos o colchão e aplicávamos um cobertor<br />

para que elas não apanhassem resfria<strong>do</strong>.<br />

Mesmo entre as meninas também havia<br />

muitas que molhavam o colchão. A profa. Ganaha<br />

também não poupava sacrifício em nos ajudar nessa<br />

tarefa. Quan<strong>do</strong> fazia bom tempo, carregávamos os<br />

colchões ao varal para expor ao sol. Portanto,<br />

muitas vezes <strong>do</strong>rmíamos apenas três ou quatro<br />

horas por noite, mas como estávamos bem<br />

dispostas, nunca nos a<strong>do</strong>ecemos.<br />

Esta vida continuou até eu me <strong>de</strong>mitir. Certa<br />

noite, quan<strong>do</strong> eu e a profa. Takeyama estávamos<br />

fazen<strong>do</strong> a ronda costumeira, passamos perto <strong>do</strong><br />

"ofuroba" e sentimos um cheiro apetitoso <strong>de</strong> batata<br />

<strong>do</strong>ce assada. Descobrimos uns quatro ou cinco<br />

meninos que estavam assan<strong>do</strong> batata na cinza<br />

quente <strong>do</strong> "ofuro". Aproximamo-nos <strong>de</strong> surpresa<br />

e:<br />

- Uhm, que cheirinho gostoso! - fomos<br />

falan<strong>do</strong>.<br />

- Essa não! - ficaram assusta<strong>do</strong>s os meninos.<br />

- Uhm, parece que está bem assada, né,- <strong>de</strong>i<br />

uma espia<strong>de</strong>la.<br />

- Professora, quer uma? - perguntou um<br />

<strong>de</strong>les.<br />

162<br />

- Se tiver alguma <strong>de</strong> sobra...<br />

- Tem sim, tem sim, - respon<strong>de</strong>ram eles num<br />

tom alegre; um <strong>de</strong>les apanhou umas batatas e tirou<br />

as cinzas.<br />

Estava quente e gostosa! Ao saborear a<br />

batata, lembrei-me <strong>do</strong>s tempos que estudava no<br />

Japão. Nas aulas da tar<strong>de</strong> e nos trabalhos <strong>de</strong> equipe,<br />

muitas vezes ficávamos até mais tar<strong>de</strong> na classe e<br />

sentíamos muita fome. Então, eu e minhas duas<br />

colegas procurávamos dar um jeitinho <strong>de</strong> comprar<br />

uns pães rechea<strong>do</strong>s para matar a fome.<br />

Aproximávamos disfarçadamente até a cerca <strong>de</strong><br />

arbustos, uma ficava sentada sobre a grama<br />

fingin<strong>do</strong> estar len<strong>do</strong> um livro, a outra ro<strong>de</strong>ava por<br />

aí vigian<strong>do</strong> se alguém aproximava, enquanto a<br />

terceira saía por um buraco aberto entre a cerca,<br />

atravessava a rua para comprar as guloseimas. Era<br />

uma sau<strong>do</strong>sa recordação. Voltei-me a si quan<strong>do</strong> um<br />

outro menino perguntou-me:<br />

- Professora quer mais?<br />

- Não, não. obrigada. Se eu comer mais,<br />

vocês não terão o suficiente. Bem agora precisamos<br />

retribuí-los com alguma coisa, né?<br />

- O que a senhora vai nos dar?<br />

- Bem, acho que vamos dar muitas lições<br />

<strong>de</strong> casa. Que tal?<br />

- Oh, essa não! - disseram os meninos e<br />

riram.<br />

Graças a estes relacionamentos,<br />

conseguimos muitas informações das coisas que<br />

estavam fora <strong>do</strong>s nossos alcances.<br />

- Professora, o Fulano está cabulan<strong>do</strong> as<br />

aulas e brincan<strong>do</strong> no campo.<br />

- Professora, o Cicrano está compran<strong>do</strong><br />

guloseimas e só anda toman<strong>do</strong> coca-cola.<br />

- Professora, o Beltrano está fuman<strong>do</strong><br />

escondi<strong>do</strong>.<br />

Eram informações valiosas que nos<br />

ajudavam para manter or<strong>de</strong>m no internato.<br />

Repetíamos a to<strong>do</strong>s a importância <strong>de</strong> manter as<br />

disciplinas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um convívio. As crianças <strong>de</strong><br />

quatorze a quinze anos já entendiam a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> respeitar as normas <strong>do</strong> estabelecimento.<br />

Aproveitan<strong>do</strong> as aulas <strong>de</strong> ciências sociais,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!