13.04.2013 Views

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

alta noite.<br />

Na manhã seguinte <strong>do</strong> acontecimento,<br />

contei a <strong>do</strong>na Fujita sobre o que havíamos<br />

presencia<strong>do</strong> na noite anterior. Ela <strong>de</strong>u uma<br />

gargalhada e disse:<br />

- Tem razão, pois jantam as seis horas da<br />

tar<strong>de</strong> e ficam até meia-noite estudan<strong>do</strong>, né, - disse<br />

ela penalizada.<br />

A partir <strong>de</strong>sse dia, a chefe da cozinha passou<br />

a preparar "oniguiri", com o arroz que sobrava no<br />

jantar, e sardinhas para dar aos alunos que<br />

quisessem.<br />

Naquela época, o beisebol estava no seu<br />

apogeu em Ibiúna. Realizavam-se campeonatos <strong>de</strong><br />

times juvenil, júnior e infantil. Os times <strong>de</strong> Ibiúna<br />

participavam <strong>do</strong>s campeonatos brasileiros e tinham<br />

conquista<strong>do</strong>s muitas vitórias.<br />

A <strong>do</strong>na Fujita era fanática por beisebol e<br />

parecia enten<strong>de</strong>r bem as regras <strong>do</strong> jogo. Quan<strong>do</strong><br />

havia competição, passava a noite em branco para<br />

preparar "bento" aos joga<strong>do</strong>res e até para a torcida.<br />

Durante a competição ela torcia e criticava as<br />

jogadas erradas em voz alta, se envolvia nas pelejas<br />

<strong>de</strong> tal forma que to<strong>do</strong>s da região apelidaram-na <strong>de</strong><br />

"meibutsu-baassan".<br />

Assim, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s tempos,<br />

aprofundamos a nossa amiza<strong>de</strong>, tomávamos chá<br />

juntos, pedíamos conselhos e contávamos sobre a<br />

vida <strong>de</strong> cada uma. Era uma pessoa alegre e<br />

espontânea, porém, <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong> havia um ar <strong>de</strong><br />

tristeza em seu semblante. E, no dia 30 <strong>de</strong> junho<br />

<strong>de</strong> 1970, ela <strong>de</strong>mitiu-se e foi embora; parece que<br />

houve um <strong>de</strong>sentendimento com o diretor.<br />

Dona Fujita foi a pessoa que tive mais<br />

contato <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que me instalei no alojamento<br />

estudantil. Portanto, senti profunda tristeza, pois<br />

foi uma pessoa sau<strong>do</strong>sa que ficou na minha<br />

memória.<br />

Uma outra cozinheira que ficou na minha<br />

recordação foi a <strong>do</strong>na Hatsuko Iura. Tinha uns trinta<br />

e poucos anos, muito calma e andava sempre com<br />

"zouri" <strong>de</strong> borracha, faça frio ou calor. Muitas<br />

vezes a chefe da cozinha gritava com ela, mas a<br />

<strong>do</strong>na Iura nem sequer <strong>de</strong>monstrava qualquer reação<br />

e continuava trabalhan<strong>do</strong> calada sem se queixar.<br />

159<br />

Porém, após uns quatro anos, <strong>do</strong>na Iura<br />

andava pálida, mas continuava trabalhan<strong>do</strong>. Como<br />

o trabalho da cozinha era preparar comida para<br />

muita gente e tinha que se manter <strong>de</strong> pé o dia to<strong>do</strong>,<br />

parecia que a fadiga havia toma<strong>do</strong> conta <strong>de</strong>la. A<br />

<strong>do</strong>na Fujita sempre dizia para que ela fosse procurar<br />

um médico. Eu também continuei insistin<strong>do</strong> para<br />

que cuidasse da saú<strong>de</strong>, mas ela não dava ouvi<strong>do</strong>,<br />

até que um dia acabou tomban<strong>do</strong> por causa <strong>de</strong> uma<br />

hemorragia e foi internada no hospital da<br />

Cooperativa Agrícola <strong>de</strong> Cotia, em São Paulo.<br />

Dona Iura era solteira. Sua mãe havia se<br />

casada novamente; tinha um irmão mais novo,<br />

porém, ele nunca veio procurá-la. Eu fui visitá-la<br />

duas vezes, na ocasião que ia a São Paulo. Na<br />

segunda vez que fui visitá-la, disse-me:<br />

- Professora, já está na hora <strong>do</strong> ônibus. Po<strong>de</strong><br />

ir embora,- e, esten<strong>de</strong>u-me a mão emagrecida pela<br />

moléstia. Seus olhos brilhavam <strong>de</strong> gratidão.<br />

- Então, vou in<strong>do</strong>. Procure melhorar.<br />

Voltarei mais vezes, - disse a ela e me <strong>de</strong>spedi. Foi<br />

a última <strong>de</strong>spedida, pois ela faleceu alguns dias<br />

<strong>de</strong>pois.<br />

Após uns <strong>de</strong>z anos, <strong>do</strong>na Iura apareceu duas<br />

ou três vezes no meu sonho e, isso, levou-me a<br />

reformar o túmulo <strong>de</strong>la <strong>de</strong>teriora<strong>do</strong> pelo tempo.<br />

Nunca imaginei que aquela pobre cozinheira<br />

ficasse tão profundamente gravada na minha<br />

memória.<br />

Após ter-me instalada no pensionato e<br />

entrosada no esquema <strong>do</strong> ensinamento, tive que<br />

enfrentar o dia da inspeção <strong>do</strong>s pais <strong>do</strong>s alunos.<br />

Era a minha primeira experiência, portanto, fiquei<br />

preocupada e fui consultar o diretor como <strong>de</strong>via<br />

me proce<strong>de</strong>r. Então ele me disse para agir como<br />

qualquer outro dia.<br />

Essa resposta me <strong>de</strong>ixou um tanto mais<br />

insegura.<br />

No dia, quan<strong>do</strong> a campainha anunciou o<br />

início das aulas e os pais começaram a encher a<br />

sala, apesar <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>cidida, senti a cabeça<br />

esquentar e quase fui <strong>do</strong>minada por uma treme<strong>de</strong>ira<br />

nas pernas. Como havia entra<strong>do</strong> numa nova lição,<br />

ensinei como lia os novos "kanji" e a maneira <strong>de</strong><br />

escrevê-los. As perguntas <strong>do</strong>s pais, portanto,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!