13.04.2013 Views

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

prof. Kiuchi ficou como substituto.<br />

Durante o <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> longos anos, mais <strong>de</strong><br />

30 professores passaram pelo pensionato. Muitas<br />

coisas aconteceram; o que ficou na minha memória<br />

é que, certa vez, a profa. Mihoko que se instalou<br />

junto comigo no internato, veio contar-me, com os<br />

olhos cheios <strong>de</strong> lágrimas, o problema que estava<br />

<strong>de</strong>frontan<strong>do</strong>.<br />

- Profa. Sueko ,não sei por que aquela<br />

professora que mora comigo anda com a cara<br />

fechada. Eu falo com ela, mas ela nem me respon<strong>de</strong>.<br />

O que <strong>de</strong>vo fazer?<br />

Naquele momento senti que a colega estava<br />

enfrentan<strong>do</strong> um problema bem sério e que ela<br />

estava realmente em apuros.<br />

- Acho que não é uma atitu<strong>de</strong> proposital.<br />

Talvez tenha uma outra razão que esteja<br />

aborrecen<strong>do</strong> ela. Continue agin<strong>do</strong> naturalmente<br />

como sempre, porque vou ver se consigo dar um<br />

jeitinho, - procurei conformá-la.<br />

Eu e a profa. Mihoko morávamos numa casa<br />

em companhia <strong>de</strong> outra professora <strong>de</strong> japonês e<br />

uma outra <strong>de</strong> corte e costura. Assim que voltávamos<br />

para casa cada qual se trancava no seu quarto e<br />

ficávamos indiferentes com aquilo que as colegas<br />

estavam fazen<strong>do</strong>. Notei que essa falta <strong>de</strong><br />

comunicação era um <strong>do</strong>s principais obstáculos no<br />

relacionamento entre as colegas. Então, sugeri para<br />

que todas <strong>de</strong>ixassem a porta aberta; passei a<br />

preparar chá e convidar as colegas para<br />

compartilhar, na sala, a um bate-papo; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então,<br />

tornamo-nos mais íntimas. Alguns dias <strong>de</strong>pois, a<br />

profa. Mihoko disse-me sorri<strong>de</strong>nte:<br />

- Profa. Sueko, obrigada por tu<strong>do</strong>. Graças<br />

a você agora a colega está <strong>de</strong> bem comigo.<br />

Senti-me muito feliz, pois era o primeiro<br />

problema entre colegas que havia encara<strong>do</strong>. A<br />

profa. Mihoko <strong>de</strong>ixou o alojamento após <strong>do</strong>is anos<br />

<strong>de</strong> trabalho.<br />

Dezessete anos mais tar<strong>de</strong>, a prima da profa.<br />

Mihoko, a profa. Terezinha Arizono, veio me<br />

procurar com os olhos cheios <strong>de</strong> lágrimas, na<br />

ocasião da gran<strong>de</strong> limpeza <strong>do</strong> pensionato. Tinha<br />

discuti<strong>do</strong> com a esposa <strong>do</strong> diretor daquela época e<br />

agredida com palavras brutais.<br />

157<br />

- Profa .Sueko, estou com me<strong>do</strong>. Ela esta<br />

uma fera! - a jovem professora estava trêmula.<br />

- Bem, já que a culpa não é sua, não há nada<br />

para temer. Deixe tu<strong>do</strong> por minha conta e vá<br />

embora, - consolei-a. Nisso, lembrei-me da profa.<br />

Mihoko, daquele dia em que ela veio me procurar.<br />

Além <strong>de</strong>ssas colegas, lembro-me também<br />

<strong>do</strong> prof. Ito, que andava pela sala com uma bengala<br />

<strong>de</strong> um metro, tocan<strong>do</strong> o assoalho para intimidar os<br />

alunos travessos. Também <strong>do</strong> prof. Tanaka que,<br />

certa ocasião, cortou o seu próprio <strong>de</strong><strong>do</strong> e fez uma<br />

marca <strong>de</strong> impressão digital sobre o ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> um<br />

aluno, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-o apavora<strong>do</strong> <strong>de</strong> me<strong>do</strong>. Assim,<br />

muitas coisas aconteceram.<br />

As auxiliares da cozinha também mudavam<br />

constantemente. No dia seguinte que me instalei<br />

no pensionato, fiquei perplexa porque obrigaram-<br />

me a ajudar nos afazeres da cozinha; eu e as outras<br />

professoras <strong>de</strong> japonês tínhamos que lavar, enxugar<br />

e colocar todas as louças em or<strong>de</strong>m, após o café da<br />

manhã, o almoço e o jantar.<br />

A chefe da cozinha, <strong>do</strong>na Masae Fujita,<br />

tinha uns sessenta anos na ocasião, porém, era<br />

dinâmica e enérgica. Os <strong>de</strong>veres da cozinha foram<br />

incumbi<strong>do</strong>s apenas à turma das professoras <strong>de</strong><br />

japonês e, como tomava muito tempo, sempre<br />

entrávamos corren<strong>do</strong> na sala <strong>de</strong> aulas, quan<strong>do</strong><br />

soava a campainha. Comportávamo-nos como uma<br />

nora que estava sob a vigia da sogra; trabalhávamos<br />

sem po<strong>de</strong>r protestar contra tal tratamento. Isso<br />

durou aproximadamente meio ano, até que o diretor<br />

Onishi aboliu essa tarefa, alegan<strong>do</strong>: "As<br />

professoras tem muito o que fazer. Não se <strong>de</strong>ve<br />

negligenciar a verda<strong>de</strong>ira obrigação por ter que<br />

ajudar a cozinha."- assim, ficamos livres da<br />

cozinha.<br />

Certa manhã <strong>de</strong> inverno, tive que transmitir<br />

alguns reca<strong>do</strong>s a <strong>do</strong>na Fujita e, sem querer, estendi<br />

as minhas mãos geladas sobre o fogo chamejante<br />

dizen<strong>do</strong> a <strong>do</strong>na Fujita:<br />

hoje, né.<br />

- Como faz frio<br />

Nisso, a chefe da<br />

cozinha protestou aos<br />

berros :

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!