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História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

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quan<strong>do</strong> começou circular os boatos <strong>de</strong> que, se o<br />

Japão per<strong>de</strong>r a guerra, to<strong>do</strong>s os japoneses iriam<br />

ser massacra<strong>do</strong>s e as terras confiscadas; advertiram-<br />

nos para que estivéssemos prepara<strong>do</strong>s para fugir<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> mato no caso <strong>de</strong> perigo; eu que tinha<br />

muitos filhos pequenos, passava noite e dia<br />

preocupada e assustada pela segurança <strong>de</strong>les. Certo<br />

dia, ouvimos um disparo ao longe e, momentos<br />

<strong>de</strong>pois, alguns fogos <strong>de</strong> artifícios estouraram na<br />

direção da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ibiúna. Mas, não sabíamos o<br />

que significava. No dia seguinte, meu mari<strong>do</strong> foi<br />

até a cida<strong>de</strong> e soube, por intermédio <strong>de</strong> um<br />

conheci<strong>do</strong> brasileiro, que os fogos <strong>do</strong> dia anterior<br />

eram <strong>de</strong> festivo <strong>do</strong> término da guerra: o Japão havia<br />

si<strong>do</strong> <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong>. A princípio, não acreditamos, pois,<br />

era tão pouco os fogos que os mora<strong>do</strong>res distantes<br />

da cida<strong>de</strong> nem sequer haviam percebi<strong>do</strong>s. A cida<strong>de</strong><br />

também, continuava calma como sempre.<br />

Alguns dias <strong>de</strong>pois, veio um aviso da<br />

Cooperativa, anuncian<strong>do</strong> que o Japão tinha perdi<strong>do</strong><br />

a guerra, que o país havia si<strong>do</strong> totalmente <strong>de</strong>struí<strong>do</strong><br />

pelos incêndios, o povo não tinha casa para morar<br />

e nem comida para se alimentar. O comunica<strong>do</strong><br />

aconselhava também para que to<strong>do</strong>s os imigrantes<br />

japoneses fincassem os pés no solo brasileiro e<br />

reconstruíssem sua nova vida aqui no exterior, visto<br />

que o Japão estava num esta<strong>do</strong> calamitoso.<br />

Todavia, muitos japoneses afirmavam que o Japão<br />

não tinha si<strong>do</strong> <strong>de</strong>rrota<strong>do</strong>.<br />

Certo dia, recebi uma carta <strong>do</strong> meu irmão<br />

mais velho que morava em Amagasaki, na qual ele<br />

escreveu-me sobre a trágica situação <strong>do</strong> Japão.<br />

Felizmente, a casa <strong>de</strong>le havia escapa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

bombar<strong>de</strong>ios americanos, portanto, a moradia não<br />

tinha problema. Todavia, para não morrer <strong>de</strong> fome<br />

tinha que comer papa <strong>de</strong> farelo e qualquer outra<br />

coisa colocada sobre à mesa, dizia a carta. Senti o<br />

meu corpo afrouxar-se. Era verda<strong>de</strong> que o Japão<br />

havia perdi<strong>do</strong> a guerra. A carta <strong>de</strong> meu irmão que,<br />

antes da guerra sempre se preocupou comigo,<br />

estava testemunhan<strong>do</strong> o fato.<br />

Um dia, contei sobre a carta a um nissei<br />

conheci<strong>do</strong>. Nisso:- você está sen<strong>do</strong> enganada. Não<br />

acredite nessa carta, porque é um truque americano<br />

que, politicamente, precisa <strong>de</strong>monstrar que o Japão<br />

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per<strong>de</strong>u a guerra. Eles trocam o conteú<strong>do</strong> da carta<br />

antes <strong>de</strong> chegar as suas mãos,- o moço tentou me<br />

convencer.<br />

- Mas, eu conheço bem a caligrafia <strong>do</strong> meu<br />

irmão, - retruquei.<br />

- Oh, então você tembém é uma das<br />

<strong>de</strong>rrotista! - gritou ele <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosamente.<br />

Fiquei calada, porque se eu continuasse<br />

insistin<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria ser boicotada pelos mora<strong>do</strong>res<br />

da colônia. Em Ibiúna também houve época assim,<br />

por alguns tempos.<br />

Com a <strong>de</strong>rrota <strong>do</strong> Japão, esperávamos que<br />

os brasileiros iriam nos perseguir, mas, ao invés<br />

disso, o que aconteceu foi intriga e violência entre<br />

os próprios japoneses radica<strong>do</strong>s no Brasil. A<br />

colônia dividiu-se em três grupos; um que admitia<br />

a <strong>de</strong>rrota <strong>do</strong> Japão, outro que não queria aceitar<br />

esse fato e um terceiro que procurava manter-se<br />

neutro <strong>do</strong>s acontecimentos. An<strong>de</strong>i preocupada, pois<br />

essa <strong>de</strong>savença parecia não ter fim. Entretanto, o<br />

tempo carregou tu<strong>do</strong> ao passa<strong>do</strong> e enterrou-as no<br />

esquecimento. Assim, a paz voltou a reinar sobre<br />

a nossa colônia tembém.<br />

Acho que foi em 1948, a Cooperativa<br />

ce<strong>de</strong>u um pedaço <strong>de</strong> terreno e ali foi construí<strong>do</strong><br />

um pensionato enorme, mediante a colaboração <strong>do</strong>s<br />

associa<strong>do</strong>s. O prof. Shimizu e sua esposa, que hoje<br />

resi<strong>de</strong>m em S. Paulo, vieram <strong>de</strong> uma Escola<br />

Japonesa <strong>do</strong> interior para educar as crianças <strong>de</strong><br />

Ibiúna, como diretor e professores <strong>de</strong> língua<br />

japonesa. Naquela ocasião fundaram a Associação<br />

<strong>do</strong>s Pais e Protetores que, posteriormente,<br />

<strong>de</strong>senvolveu-se em Associação <strong>do</strong>s Japoneses <strong>de</strong><br />

Ibiúna, Associação das Senhoras e Associação old-<br />

boy. Posteriormente, criaram também o Rosso Club<br />

e, hoje, os i<strong>do</strong>sos recebem aposenta<strong>do</strong>ria <strong>do</strong><br />

governo e divertem-se jogan<strong>do</strong> "gateball" e<br />

fazen<strong>do</strong> outras coisas. Entretanto, a maioria <strong>do</strong>s<br />

pioneiros <strong>de</strong>sta região já faleceram e poucos restam<br />

para contar a história <strong>do</strong>s<br />

velhos tempos da cida<strong>de</strong>la<br />

<strong>de</strong> Úna.

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