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História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

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<strong>do</strong> produto caiu e tiveram que ven<strong>de</strong>r por um preço<br />

<strong>de</strong>sanima<strong>do</strong>r.<br />

Meu mari<strong>do</strong> e um ajudante negro<br />

transportavam batatas para S. Paulo com o<br />

caminhão <strong>de</strong> casa. Faziam diariamente duas<br />

viagens por estradas esburacadas e lamacentas<br />

pelas chuvas, e a noite os ga<strong>do</strong>s da vizinhança<br />

juntavam-se na estrada dificultan<strong>do</strong> a passagem <strong>do</strong><br />

carro. O sacrifício era enorme, porém, o que se<br />

lucrava era apenas o cansaço.<br />

No primeiro ano, tive meu primeiro filho.<br />

Foi quan<strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong> <strong>de</strong>cidiu tornar-se<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> irmão. Um <strong>do</strong>s jovens japoneses<br />

que trabalhavam conosco, casou-se e mu<strong>do</strong>u para<br />

longe; o outro também passou a trabalhar por conta<br />

própria, mas, continuou moran<strong>do</strong> perto da nossa<br />

casa. Meu mari<strong>do</strong> tinha muita amiza<strong>de</strong> com este<br />

moço que, nas horas vagas, os <strong>do</strong>is sentavam em<br />

torno <strong>de</strong> uma garrafa <strong>de</strong> pinga e ficavam beben<strong>do</strong><br />

e tagarelan<strong>do</strong>; freqüentemente, almoçávamos ou<br />

jantávamos juntos.<br />

Naquela época, no rio havia muito peixe e,<br />

nas poças formadas pelas enchentes, podia apanhar<br />

peixes com peneira e transporta-los em cavalo! Os<br />

bois eram cria<strong>do</strong>s soltos por aí. Certa vez, quan<strong>do</strong><br />

eu estava passan<strong>do</strong> por um caminho <strong>de</strong> mato,<br />

subtamente um boi <strong>de</strong> chifres enormes surgiu pela<br />

moita; fiquei tão apavorada que me pus a correr<br />

com o coração disparan<strong>do</strong> <strong>de</strong> mê<strong>do</strong>.Cheguei em<br />

casa toda assustada e contei ao meu mari<strong>do</strong> mas,<br />

calmamente, ele explicou-me que os bois <strong>do</strong> Brasil<br />

não atacam as pessoas.<br />

Em 1939, aproximadamente, a família <strong>do</strong><br />

sr. Morio Arizono mu<strong>do</strong>u-se para a outra margem<br />

<strong>do</strong> rio, bem perto da nossa casa. Compraram o<br />

terreno encosta<strong>do</strong> a zona urbana e começaram a<br />

plantar batata. A família inteira era bon<strong>do</strong>sa e como<br />

os quatros filhos mais velhos ajudavam na<br />

plantação, levava uma vida bastante farta. A <strong>do</strong>na<br />

Arizono era rica em experiências da vida, porisso<br />

ensinava-me sobre a culinária brasileira e como<br />

criar os filhos. Para mim, inexperiente da vida, foi<br />

como se meus pais tivessem muda<strong>do</strong>s ao nosso<br />

vizinho. A casa <strong>do</strong>s Arizonos situava-se no<br />

caminho mais curto que nós tomávamos, quan<strong>do</strong><br />

152<br />

íamos à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Una; bastava atravessar uma<br />

ponte <strong>de</strong> terra batida. Já nessa altura, não usávamos<br />

mais can<strong>de</strong>eiro; a iluminação era lampião à gás.<br />

Algum tempo <strong>de</strong>pois,construíram um<br />

<strong>de</strong>pósito da Cooperativa Agrícola <strong>de</strong> Cotia na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Úna. Com isso, aumentou o número <strong>de</strong><br />

sitiantes japoneses. Na nossa vizinhança também<br />

se instalaram quatro famílias amigas, <strong>do</strong> tempo <strong>de</strong><br />

Morumbi, que compraram terras com a ajuda <strong>de</strong><br />

meu cunha<strong>do</strong>. A região tornou-se repentinamente<br />

alegre. A maioria tornaram-se associa<strong>do</strong>s da<br />

Cooperativa e, mediante a orientação <strong>de</strong>sta<br />

socieda<strong>de</strong>, passaram da monocultura das babatas<br />

à policultura plantan<strong>do</strong>, além da batata, tomate,<br />

milho e legumes. Dois anos <strong>de</strong>pois da construção<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito da Cooperativa, fundaram o Grupo <strong>de</strong><br />

Transporte Coletivo e passaram a coletar os<br />

produtos agrícolas <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s, facilitan<strong>do</strong> a<br />

vida <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. E, como uma das ativida<strong>de</strong>s<br />

alternativas, a Cooperativa incentivou os sócios a<br />

entrarem na área da avicultura. Naquele tempo,<br />

todas as <strong>do</strong>nas <strong>de</strong> casa ainda eram jovens. Criavam<br />

e amamentavam os filhos, além <strong>de</strong> executar<br />

afazeres <strong>de</strong> casa, iam a roça para trabalhar na<br />

plantação junto com o mari<strong>do</strong>. Trabalhar na roça<br />

cuidan<strong>do</strong> das crianças pequenas era, realmente,<br />

uma tarefa bastante árdua. Porriso, muitas famílias<br />

passaram a criar galinhas para produzir ovos.<br />

Resolvemos entrar também na área da avicultura;<br />

era uma granja <strong>de</strong> apenas 200 a 300 cabeças, mas,<br />

como tinha que dar continuida<strong>de</strong> em criar os<br />

pintinhos, eu passava o dia inteiro atarefada. Assim,<br />

quan<strong>do</strong> estourou a Segunda Guerra Mundial, eu já<br />

era mãe <strong>de</strong> cinco filhos.<br />

Logo <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> início da guerra, recebemos<br />

um aviso para que queimasse to<strong>do</strong>s os livros<br />

escritos em japonês. Eu que não sabia ler o<br />

português senti uma profunda tristeza quan<strong>do</strong> tive<br />

que <strong>de</strong>struir os livros que possuia. Meu mari<strong>do</strong><br />

embrulhou bem a sua espigarda <strong>de</strong> caça e enterrou-<br />

a perto <strong>de</strong> casa; embrulhamos também a foto <strong>do</strong><br />

impera<strong>do</strong>r e escon<strong>de</strong>mos no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> guarda-<br />

roupas. Porém, não sofremos qualquer perseguição<br />

e nem busca. Nisso, começou se alastrar notícias<br />

<strong>de</strong> que o Japão estava <strong>de</strong>sfavorável na guerra. Foi

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