13.04.2013 Views

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

História do Desenvolvimento Da Colônia Nipo Brasileira de

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Faça frio ou calor, as cozinheiras tem que<br />

trabalhar perto <strong>do</strong> fogo. Não venha na cozinha para<br />

falar sobre o frio ou calor. Enten<strong>de</strong>u, professora?<br />

atitu<strong>de</strong>. Então,<br />

Fiquei espantada e indignada com aquela<br />

-Ora, eu disse que está frio porque<br />

realmente está fazen<strong>do</strong> frio. Há algum mal nisso,-<br />

respondi ofendida e sai.<br />

Depois <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte, as cozinheiras vieram<br />

dizer-me sorrin<strong>do</strong>:<br />

- Puxa, como a professora tem coragem!<br />

Ninguém nunca se ousou em respon<strong>de</strong>r para aquela<br />

velha!!<br />

Porém, na tar<strong>de</strong> daquele dia, <strong>do</strong>na Fujita<br />

veio procurar-me para pedir <strong>de</strong>sculpa daquilo que<br />

tinha dito.<br />

- Eu tive um problema e acabei<br />

<strong>de</strong>scarregan<strong>do</strong> em cima da professora. Sinto muito,<br />

- disse ela.<br />

Trocamos algumas palavras <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />

e rimos. Admirei muito a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, pela<br />

coragem <strong>de</strong> admitir o próprio erro. Dona Fujita,<br />

apesar <strong>de</strong> ser uma pessoa <strong>de</strong>terminada, era muito<br />

bon<strong>do</strong>sa e compreensiva. No alojamento tinha<br />

alunos proce<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

Paraná e até <strong>de</strong> Santa Catarina que, nos fins <strong>de</strong><br />

semana, não tinham condições <strong>de</strong> voltar junto <strong>de</strong><br />

seus pais; crianças que passavam tristes com<br />

sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu lar. Então, a fim <strong>de</strong> alegrá-las um<br />

pouco, a <strong>do</strong>na Fujita preparava uma comida<br />

especial. Quan<strong>do</strong> tinha tarefa e passava alguns fins<br />

<strong>de</strong> semana no internato, eu também tive<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saborear essas refeições gostosas.<br />

- Coitadas <strong>de</strong>ssas crianças. Estou fazen<strong>do</strong><br />

o que as mães <strong>de</strong>las gostariam <strong>de</strong> fazer para elas, -<br />

dizia a chefe da cozinha.<br />

Este pensionato não era registra<strong>do</strong><br />

oficialmente como escola <strong>de</strong> língua japonesa; era<br />

uma escola agrícola <strong>de</strong> curso supletivo e <strong>de</strong> corte e<br />

costura. Os meninos estavam cultivan<strong>do</strong> uma área<br />

bastante ampla, na qual plantavam nabos, acelgas,<br />

alfaces, cenouras, cebolinhas e outras coisas.<br />

Semeavam, regavam, capinavam e cuidavam nas<br />

horas vagas e, na época da colheita, enchiam a<br />

158<br />

frente da cozinha com<br />

produtos <strong>de</strong> primeira<br />

qualida<strong>de</strong>. As alfaces<br />

frescas eram as mais<br />

saboreadas, como<br />

também as conservas<br />

<strong>de</strong> nabos e <strong>de</strong> acelgas. Sempre havia três ou quatro<br />

quintos <strong>de</strong> conservas prepara<strong>do</strong>s, no fun<strong>do</strong> da<br />

cozinha.<br />

Certa manhã, quan<strong>do</strong> estava lavan<strong>do</strong> o<br />

rosto, ouvi a voz <strong>de</strong> <strong>do</strong>na Fujita que dizia:<br />

- Parece que alguém anda tiran<strong>do</strong> conserva<br />

<strong>do</strong> barril todas as noites.<br />

- Como po<strong>de</strong> comer só conservas se estão<br />

tão salgadas?, - comentei rin<strong>do</strong> com a profa.<br />

Matsuda.<br />

Alguns dias <strong>de</strong>pois, quan<strong>do</strong> estávamos<br />

fazen<strong>do</strong> a ronda noturna, notamos que alguém<br />

estava no fun<strong>do</strong> da cozinha; aproximamo-nos<br />

furtivamente e flagramos três ou quatro ginasianas<br />

que estavam tiran<strong>do</strong> conservas <strong>do</strong> barril.<br />

- Hei, vocês ai! - dissemos a elas.<br />

- Fomos apanhadas! - riram elas sem<br />

qualquer malda<strong>de</strong>, mastigan<strong>do</strong> as conservas<br />

lavadas, mas sem cortar.<br />

- Sabe, né, professora, - disse uma <strong>de</strong>las. -<br />

A gente fica estudan<strong>do</strong> até tar<strong>de</strong> e sente uma fome.<br />

As conservas estão gostosas, não querem<br />

experimentar, - cortou umas fatias <strong>de</strong> nabo e nos<br />

<strong>de</strong>u.<br />

De fato, quan<strong>do</strong> trabalhávamos até bem<br />

tar<strong>de</strong>, nós também sentíamos fome e tínhamos<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> comer algo. Então, mastigamos os<br />

pedaços <strong>de</strong> nabo que a menina nos ofereceu e<br />

tomamos água. Eram tão gostosos.<br />

Foi uma experiência extraordinária. Ao<br />

invés <strong>de</strong> puni-las, acabamos tornan<strong>do</strong> cúmplices<br />

<strong>de</strong>las e, com isso, a distância que nos separava das<br />

alunas diminuiu; as meninas começaram a contar<br />

tu<strong>do</strong> o que se passava entre si, sem guardar segre<strong>do</strong><br />

e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, ficamos ao par <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que estava<br />

acontecen<strong>do</strong> entre elas. Após este relacionamento,<br />

comecei a trazer balas e biscoitos <strong>de</strong> casa e<br />

distribuía aos alunos que ficavam estudan<strong>do</strong> até

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!