OS FALARES FRONTEIRIÇOS DE OLIVENÇA E ... - Além Guadiana
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c)Pretérito mais-que-perfeito de indicativo e pretérito<br />
imperfeito de conjuntivo<br />
É outro traço que assinala Maria de Fátima Rezende F. Matias<br />
como possível castelhanização, documentado por ela nas povoações<br />
espanholas do seu estudo e apenas uma vez em Ouguela.<br />
A gramática portuguesa admite em casos muito específicos<br />
esta confusão. Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra (Cunha e Cintra<br />
1989: 456), o pretérito-mais-que-perfeito simples pode vir a empregar-se<br />
em lugar do pretérito imperfeito do conjuntivo na linguagem literária.<br />
Também na linguagem corrente é possível este emprego em frases como<br />
quem me dera!, prouvera a Deus, Pudera!, Tomara que!<br />
Quando este emprego deixa de ser excepcional para se tornar<br />
habitual, é que podemos suspeitar a influência espanhola 53<br />
É o que acontece em Olivença, onde a presença deste<br />
fenómeno (além do caso da interjeição tomara!, nada suspeitoso de<br />
castelhanismo) é bastante habitual, como demonstram os exemplos das<br />
gravações:<br />
-tomara que me chamara Vitória (A2)<br />
-tomara que te levara pa lá pà sua casa(A2)<br />
-Porque se vom’cê me vira a mim, no meu tempo...(A2)<br />
Em Campo Maior o emprego destes tempos, nos meus<br />
informantes, não se afasta do português padrão:<br />
-Campo Maior si ye dessẽ valore...(D)<br />
- o mê avô, nã queria que mê pai aprendesse a lere(11-G)<br />
-se nã amentassẽ as coisas, a coisa marchava (D)<br />
d)Pretérito mais-que-perfeito de indicativo e condicional<br />
Celso Cunha e Lindley Cintra (Cunha e Cintra 1989: 456)<br />
também contempla a substituição de condicional por pretérito mais-queperfeito<br />
de indiciativo (Oh! Se lutei!...mas devera)(=deveria)<br />
Registei apenas, em Olivença, um exemplo deste uso, que não<br />
recolhe Maria de Fátima Rezende F. Matias:<br />
-ê quisera ter vinte anos (A2)<br />
e)Gerúndio (desinências pessoais no gerúndio)<br />
Um dos traços característicos do português alentejano (e<br />
algarvio) é a presença de flexões de pessoa no gerúndio, analogamente ao<br />
que, no infinitivo, é traço típico da área galego-portuguesa 54 .<br />
Leite de Vasconcelos registara o fenómeno em frases como em<br />
tu me chamandos, em tirandem daqui o ferro, onde tu vindes, irei eu...<br />
53<br />
Cfr. Galego, onde é frequente, na língua escrita e falada, este emprego do tempo de indicativo em lugar<br />
do tempo do conjuntivo.<br />
54<br />
O fenómeno também foi registado no galego de Rianxo, e mesmo empregado literariamente por<br />
Castelão (Freixeiro Mato 2002: 426-427)<br />
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