o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma correspondência entre <strong>stato</strong> e Estado <strong>em</strong> Maquiavel, não é que ela<br />
confirma o caráter exploratório do <strong>stato</strong>, mas que <strong>de</strong>monstra a qualida<strong>de</strong> pessoal que ainda<br />
está contida nele. A impessoalida<strong>de</strong> do governo é uma das principais características da i<strong>de</strong>ia<br />
mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> Estado. A transição entre governo estritamente ligado à pessoa do governante e o<br />
governo impessoal marca, <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva, a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> estatal. No pensamento político<br />
<strong>de</strong> Hobbes é clara essa idéia. Como vimos no capítulo anterior, o Estado hobbesiano é um<br />
corpo artificial, governado por um representante que não lhe altera a natureza. Quando o<br />
governante se <strong>de</strong>svincula do Estado, ele permanece o mesmo. Já Maquiavel frequent<strong>em</strong>ente<br />
se utiliza <strong>de</strong> expressões que <strong>de</strong>monstram essa conotação <strong>de</strong> pessoalida<strong>de</strong>. O uso dos pronomes<br />
possessivos que acompanham o <strong>stato</strong> não <strong>de</strong>ixa dúvidas. Mansfield, citando os ex<strong>em</strong>plos<br />
dados por Skinner que suger<strong>em</strong> “uma aparência da impessoalida<strong>de</strong> no <strong>stato</strong> <strong>de</strong> Maquiavel”,<br />
diz que<br />
La maestà <strong>de</strong>llo Stato, l'autorità <strong>de</strong>llo Stato, Ia mutazione <strong>de</strong>llo <strong>stato</strong> – provam ao<br />
ser examinadas referir-se à majesta<strong>de</strong>, autorida<strong>de</strong> e mudança do estado <strong>de</strong> alguém.<br />
Esse alguém po<strong>de</strong> ser coletivo, como no <strong>stato</strong> di Firenze, mas isso não faz o estado<br />
<strong>de</strong> Florença menos pessoal do que status popularis <strong>de</strong> Aristóteles (na tradução <strong>de</strong><br />
Bruni no comentário <strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong> Aquino), que é um regime que pertence ao povo.<br />
Se o <strong>stato</strong> di Firenze inclui Pisa, é porque Pisa pertence aos florentinos<br />
(MANSFIELD, 1983, p. 853) 80 .<br />
De fato, concordamos que o <strong>stato</strong> <strong>em</strong> Maquiavel é s<strong>em</strong>pre o <strong>stato</strong> <strong>de</strong> alguém, que está<br />
s<strong>em</strong>pre r<strong>em</strong>etendo a uma pessoalida<strong>de</strong>, mas outra passag<strong>em</strong> do texto <strong>de</strong> Mansfield nos faz<br />
pensar mais sobre o assunto. Ao <strong>de</strong>finir <strong>em</strong> que se constitui um estado impessoal, o<br />
pesquisador diz que “[...] o estado ou governo não é constituído pelos <strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r<br />
atual; mas sim, está lá antes <strong>de</strong> estes chegar<strong>em</strong>, esperando para ser reivindicado, e vai<br />
continuar <strong>de</strong>pois que eles partiram, aguardando com serenida<strong>de</strong> e respeito imparcial para o<br />
próximo requerente” (MANSFIELD, 1983, p. 849). Essa <strong>de</strong>finição nos fez recordar a já citada<br />
passag<strong>em</strong> do capítulo 11 do primeiro Livro dos Discursos. Nela o autor indica que a salvação<br />
<strong>de</strong> uma república ou <strong>de</strong> um reino <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das or<strong>de</strong>nações que subsistam à vida do<br />
governante. Nesse texto parece-nos que Maquiavel compreen<strong>de</strong> o <strong>stato</strong> como uma entida<strong>de</strong><br />
que permanece enquanto os indivíduos que exerc<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r são substituídos. E aqui<br />
encontramos uma diferença entre o <strong>stato</strong> e o governo, visto que o primeiro se constitui<br />
enquanto estrutura que permanece, ao contrário daqueles que governam. Há, então, uma<br />
80 Todas as referências a essa obra são traduções para uso didático feitas por José Luiz Ames.<br />
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