o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
senhores. A república po<strong>de</strong> ser formada por diversas cida<strong>de</strong>s e estas po<strong>de</strong>m possuir costumes<br />
diferentes, mas o que <strong>de</strong> fato é essencial, apesar das diferenças peculiares, é a submissão que<br />
todas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ao império <strong>de</strong> um senhor soberano e a seus editos e or<strong>de</strong>nanças.<br />
Como diria Bodin, “[...] <strong>em</strong> resumo, a nota característica da cidadania é a obediência e<br />
reconhecimento do súdito livre para com seu soberano e a tutela, justiça e <strong>de</strong>fesa do príncipe<br />
para com o súdito” (BODIN, 2006, p. 41). Inclusive, Bodin também <strong>de</strong>staca essa<br />
característica como a diferença essencial entre o cidadão e o estrangeiro 49 .<br />
Dada a <strong>de</strong>finição do que é a república e do que a constitui, Bodin passa à análise do<br />
que é o po<strong>de</strong>r soberano. Ao iniciar o capítulo VIII, Bodin fala da importância <strong>em</strong> <strong>de</strong>finir o<br />
termo soberania. Segundo ele, é necessário b<strong>em</strong> compreendê-lo, pois se trata daquilo que<br />
constitui o t<strong>em</strong>a principal das Repúblicas. O autor chama atenção ao fato <strong>de</strong> que, apesar <strong>de</strong><br />
toda essa importância, o termo não fora até então tratado por nenhum jurisconsulto, por<br />
nenhum filósofo político. Assim, na tarefa inicial pelo esclarecimento do termo, Bodin o<br />
<strong>de</strong>fine como po<strong>de</strong>r absoluto e perpétuo 50 : “a soberania é o po<strong>de</strong>r absoluto e perpétuo <strong>de</strong> uma<br />
república” (BODIN, 2006, p. 47). O po<strong>de</strong>r absoluto é pensando, pelo autor, como algo que<br />
não po<strong>de</strong> ser dividido n<strong>em</strong> compartilhado, entretanto observa que há circunstâncias <strong>em</strong> que<br />
ele po<strong>de</strong> ser concedido a alguém por t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>terminado. Po<strong>de</strong>ríamos pensar que, nesses<br />
casos, o portador <strong>de</strong> tal po<strong>de</strong>r passe à condição <strong>de</strong> soberano, mas, ao contrário disso, Bodin<br />
adverte que, <strong>em</strong> tais casos, aquele ou aqueles a qu<strong>em</strong> tal po<strong>de</strong>r foi outorgado não passam a ser<br />
portadores da soberania, pois, tão logo passe o t<strong>em</strong>po estabelecido, ele(s) retorna(m) à sua<br />
condição anterior <strong>de</strong> súdito(s) 51 . O autor explica que, nos casos <strong>de</strong> concessão, a posse<br />
49<br />
Bodin rejeita a i<strong>de</strong>ia aristotélica <strong>de</strong> que o cidadão se <strong>de</strong>fine pelo direito à participação e à <strong>de</strong>liberação nas<br />
magistraturas e ass<strong>em</strong>bleias do povo. Também rejeita a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o nobre é mais cidadão que o plebeu,<br />
assim como o habitante da vila é mais cidadão que o camponês, ou, quando afirma que os cidadãos plenos são<br />
aqueles <strong>de</strong> meia ida<strong>de</strong>. Para Bodin, não há privilégios que <strong>de</strong>termine qu<strong>em</strong> é mais ou menos cidadão, se ser<br />
cidadão é algo que está condicionado somente à relação <strong>de</strong> obrigação mútua que se estabelece entre soberano<br />
e súdito, o soberano <strong>de</strong>ve por conta “[...] da fé e obediência que <strong>de</strong>le recebe, <strong>de</strong>ve-lhe justiça, conselho,<br />
consolação, ajuda e proteção, tudo o que não é <strong>de</strong>vido ao estrangeiro” (BODIN, 2006, p. 39).<br />
50<br />
O que faz o soberano, segundo Bodin, é a obediência <strong>de</strong> todos os cidadãos que o reconhec<strong>em</strong> por seu po<strong>de</strong>r<br />
perpétuo e absoluto. No pensamento bodiniano, a justiça é o fim da lei, mas essa justiça é <strong>de</strong> competência do<br />
soberano. Mayaki (2000, p. 124) explica isso a partir <strong>de</strong> uma analogia entre os atributos <strong>de</strong> Deus e do<br />
soberano: tradicionalmente a Igreja atribui a Deus uma inteligência e uma vonta<strong>de</strong> que se i<strong>de</strong>ntificam uma a<br />
outra, os homens não compreen<strong>de</strong>m as vias escolhidas por Deus, pois os caminhos por eles escolhidos são<br />
impenetráveis para os mortais. As leis são feitas, porém, para o uso dos homens e eles a compreen<strong>de</strong>m b<strong>em</strong>.<br />
Desse mesmo modo ocorre também com a relação entre o soberano e os sujeitos. A vonta<strong>de</strong> do príncipe<br />
coinci<strong>de</strong> com a justiça perfeita, por isso os cidadãos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> obe<strong>de</strong>cer à sua vonta<strong>de</strong> (que será expressa <strong>em</strong><br />
forma <strong>de</strong> leis), s<strong>em</strong> questioná-la, s<strong>em</strong> objeção, pois a autorida<strong>de</strong> lhe é conferida por Deus, para que seja b<strong>em</strong><br />
usada.<br />
51 Bodin <strong>de</strong>staca duas situações, apenas, nas quais há possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>positário passe a ser possuidor do<br />
po<strong>de</strong>r. O primeiro caso ocorre por tirania, quando, vencido o prazo pelo qual lhe foi <strong>de</strong>positado o po<strong>de</strong>r, o<br />
60