17.06.2013 Views

o conceito de stato em maquiavel - Unioeste

o conceito de stato em maquiavel - Unioeste

o conceito de stato em maquiavel - Unioeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

surge da evolução <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s primitivas quanto não é o resultado <strong>de</strong> um cálculo, a partir<br />

do qual os homens perceberiam que a vida associada é uma garantia maior <strong>de</strong> vida. Para<br />

Maquiavel a constituição do vivere civile é o resultado <strong>de</strong> uma ação fundadora. Essa ação se<br />

caracteriza pela violência e pela <strong>de</strong>struição das antigas leis e or<strong>de</strong>ns, tendo como resultado<br />

final a instauração das novas instituições ou, ainda, pelo ato <strong>de</strong> instituir o viver <strong>em</strong><br />

coletivida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a vida se caracteriza pela singularida<strong>de</strong>. Estabelecer novas or<strong>de</strong>ns <strong>em</strong><br />

lugares on<strong>de</strong> os povos estavam habituados às antigas instituições é s<strong>em</strong>pre mais difícil a qu<strong>em</strong><br />

assume tal tarefa. Nos primeiro livro dos Discursos, Maquiavel <strong>de</strong>clara que os fundadores<br />

encontram maiores facilida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> criar repúblicas nos lugares <strong>em</strong> que os homens não estão<br />

habituados à vida civilizada. O autor compara o ato <strong>de</strong> fundação ao trabalho <strong>de</strong> um escultor<br />

que “[...] extrairá com mais facilida<strong>de</strong> uma bela estátua do mármore bruto do que dum<br />

mármore mal esboçado por outr<strong>em</strong>” (Discursos, I, 11). Em O Príncipe e o nos Discursos<br />

encontramos passagens nas quais Maquiavel compara o ato <strong>de</strong> fundação ao ato <strong>de</strong> dar forma à<br />

matéria:<br />

O povo romano, portanto, maravilhado com a bonda<strong>de</strong> e a prudência <strong>de</strong> Numa, cedia<br />

a todas as suas <strong>de</strong>liberações. É b<strong>em</strong> verda<strong>de</strong> que o fato <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> cheios <strong>de</strong> religião<br />

aqueles t<strong>em</strong>pos, e ru<strong>de</strong>s os homens com que ele precisava lidar, facilitou-lhe muito o<br />

alcance <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>sígnios, visto que lhe era possível imprimir-lhes qualquer nova<br />

forma. (Discursos I, 11).<br />

No capítulo VI <strong>de</strong> O Príncipe, referindo-se a virtù dos gran<strong>de</strong>s fundadores, Maquiavel<br />

diz que “[...] examinando suas ações e suas vidas, ver<strong>em</strong>os que não receberam da fortuna mais<br />

do que a ocasião, que lhes <strong>de</strong>u a matéria para introduzir<strong>em</strong> a forma que lhes aprouvesse”. No<br />

capítulo XXVI, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Maquiavel é encontrada <strong>em</strong> duas passagens. Na abertura do<br />

texto, consi<strong>de</strong>rando a atual situação da Itália 70 , o autor diz que, “[...] consi<strong>de</strong>rando todas as<br />

coisas ditas acima e refletindo eu mesmo, se o momento atual da Itália é propício a um<br />

príncipe novo, isto é se existe matéria que justifique que um príncipe pru<strong>de</strong>nte e valoroso lhe<br />

minimizar as obrigações que <strong>de</strong>la resultam” (KERFERD, p. 2003, p. 252). No fragmento <strong>de</strong> Sísifo encontra-se<br />

uma posição s<strong>em</strong>elhante a essa <strong>de</strong> Hípias. Conforme o pensador, “[...] a ausência <strong>de</strong> recompensa e <strong>de</strong><br />

punições para os bons e para os maus no estado original <strong>em</strong> que os homens a princípio se encontraram, levouos<br />

a estabelecer leis a fim <strong>de</strong> que reinasse a justiça”. Embora o termo ‘acordo’ não esteja incluído, a<br />

implicação aponta exatamente para essa base (KERFERD, 2003, p. 252-253, fragmento DR 88 25).<br />

70 Nesse capítulo, para <strong>de</strong>screver a atual situação <strong>em</strong> que se encontrava a Itália, Maquiavel recorre a ex<strong>em</strong>plos<br />

históricos, dando ênfase à condição do povo italiano comparada ao que foi vivido por outros povos: “[...] para<br />

se revelar a virtù <strong>de</strong> um espírito italiano foi necessário que a Itália se reduzisse ao ponto <strong>em</strong> que se encontra<br />

atualmente, e fosse mais escrava que os hebreus, mais serva que os persas, mais dispersa que os atenienses,<br />

s<strong>em</strong> chefe, s<strong>em</strong> or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>rrotada, espoliada, dilacerada, <strong>de</strong>vastada, e tivesse suportado todo tipo <strong>de</strong> ruína”<br />

(MAQUIAVEL, O Príncipe, XXVI).<br />

87

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!