o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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usca vã. É por isso que o <strong>stato</strong> <strong>de</strong> Maquiavel não correspon<strong>de</strong> ao Estado como nós o<br />
conceb<strong>em</strong>os, não pelo fato <strong>de</strong> pensá-lo como um modo <strong>de</strong> exploração, mas porque “[...] <strong>em</strong> Il<br />
Principe, ele não pensa <strong>em</strong> lo <strong>stato</strong> <strong>de</strong> outra maneira. [...] Para nós estado é, entre outras<br />
coisas, um corpo político. Em Il Principe lo <strong>stato</strong> nunca é um corpo político” (HEXTER,<br />
1957, p. 130). Hexter até admite que, às vezes, o termo parece ter o sentido <strong>de</strong>: “país”; “país e<br />
povo”; ”recursos <strong>em</strong> geral”; “classe dominante”; “governo além do povo”; “povo, país e<br />
governo <strong>em</strong> conjunto”; “comando”, entre outros significados, mas que, na maior parte dos<br />
casos, não há como i<strong>de</strong>ntificar se o vocábulo se refere mesmo a tais significados ou até<br />
mesmo a quantos <strong>de</strong>les se r<strong>em</strong>ete. De todas estas observações, Hexter <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a coerência<br />
dos textos <strong>maquiavel</strong>ianos não está na inserção clara <strong>de</strong> um significado do termo <strong>stato</strong>, “[...]<br />
mas <strong>em</strong> uma atitu<strong>de</strong> extr<strong>em</strong>amente coerente <strong>em</strong> direção a ele, e tal atitu<strong>de</strong> é <strong>de</strong> exploração”<br />
(HEXTER, 1957, p. 124-125).<br />
Outro texto que se ocupa com essa questão da correspondência entre <strong>stato</strong> e Estado<br />
são os Escritos sobre o Renascimento, <strong>de</strong> Chabod 30 . Trata-se <strong>de</strong> uma investigação que t<strong>em</strong><br />
como base o questionamento acerca do valor que o vocábulo conteria no século XVI. Com<br />
base nisso, Chabod lança uma questão que, a este presente trabalho, é certamente pertinente e<br />
que segue a linha <strong>de</strong> discussão que vimos nos textos <strong>de</strong> Chiappelli e <strong>de</strong> Hexter: “[...] qu<strong>em</strong><br />
pronuncia esta palavra então, infun<strong>de</strong>-lhe o mesmo conteúdo ou atribui o mesmo valor que<br />
qu<strong>em</strong> a pronuncia hoje 31 ?” (CHABOD, 1990, p. 551). O primeiro passo para se respon<strong>de</strong>r a<br />
uma questão como essa é começar pela <strong>de</strong>finição do objeto <strong>de</strong> comparação. Para saber se o<br />
<strong>stato</strong> do Renascimento correspon<strong>de</strong> ao Estado da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, é preciso ter b<strong>em</strong> claro o que<br />
caracteriza este último. O que se po<strong>de</strong> assinalar, segundo Chabod, é que<br />
[...] hoje, o Estado não é tão somente o território, n<strong>em</strong> tão somente a população, não<br />
é i<strong>de</strong>ntificável com n<strong>em</strong> com , n<strong>em</strong> tão só com as leis e<br />
instituições, senão que reúne todos esses el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> si, não se i<strong>de</strong>ntificando com<br />
nenhum <strong>de</strong>les, todos necessários e nenhum suficiente. (CHABOD, 1990, p. 551).<br />
Diante <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição, Chabod, assim como o fez Hexter especificamente no contexto<br />
<strong>maquiavel</strong>iano, diz que a resposta ao questionamento anterior é “não”. O <strong>stato</strong> da forma como<br />
os escritores do século XVI <strong>em</strong>pregam <strong>em</strong> seus escritos não correspon<strong>de</strong> a essa noção <strong>de</strong><br />
Estado. É aqui que Chabod chega à reflexão sobre o uso que Maquiavel faz do termo.<br />
30 Todas as referências a essa obra são traduções nossas.<br />
31 Nota no texto <strong>de</strong> Condorelli: Chabod também assinala que a própria <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Estado não é <strong>de</strong>finida a partir<br />
<strong>de</strong> um consenso geral, ou seja, segundo o comentador, a <strong>de</strong>finição é vaga e imprecisa.<br />
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