o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
verda<strong>de</strong>ira continua sendo daquele que conce<strong>de</strong>u o direito 52 : “[...] assim qu<strong>em</strong> conce<strong>de</strong> o<br />
po<strong>de</strong>r e a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar ou mandar, seja por t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>terminado e limitado, seja por<br />
tanto t<strong>em</strong>po como lhes apraza, continuam, não obstante, <strong>em</strong> possessão do po<strong>de</strong>r e jurisdição,<br />
que os outros exerc<strong>em</strong> a título <strong>de</strong> préstimo ou <strong>em</strong> precário” (BODIN, 2006, p. 48). Por lei, é<br />
<strong>de</strong>ver do <strong>de</strong>positário e custódio <strong>de</strong>volvê-lo tão logo o prazo inicial expire, a menos que o<br />
prazo seja revogado pelo concessor.<br />
De acordo com o pensamento bodiniano, atribuir ao <strong>de</strong>positário uma soberania<br />
absoluta teria como consequência fazê-lo mais po<strong>de</strong>roso que a pessoa que lhe conce<strong>de</strong>u<br />
t<strong>em</strong>porariamente o po<strong>de</strong>r. Seria o risco absurdo <strong>de</strong> ter o súdito mandando <strong>em</strong> seu senhor. A<br />
negação <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> é expressa por Bodin nos seguintes termos: “[...] a pessoa do<br />
soberano está s<strong>em</strong>pre isenta <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> direito, por muito po<strong>de</strong>r e autorida<strong>de</strong> que dê a<br />
outro. Nunca dá tanto que não retenha mais para si e jamais é dispensado <strong>de</strong> mandar ou <strong>de</strong><br />
conhecer ou <strong>de</strong> conhecer por prevenção, concorrência ou evocação” (BODIN, 2006, p. 48).<br />
Bodin cita como ex<strong>em</strong>plo o estabelecimento dos <strong>de</strong>z comissários cuja tarefa era <strong>de</strong><br />
restabelecer os costumes e a or<strong>de</strong>m. Eles, <strong>em</strong>bora tivess<strong>em</strong> um po<strong>de</strong>r absoluto e <strong>de</strong>cisivo, não<br />
eram <strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r soberano, pois tão logo a comissão chegasse ao fim, cessava<br />
também o po<strong>de</strong>r que lhes fora conferido 53 .<br />
Para a soberania não há limites “[...] n<strong>em</strong> <strong>em</strong> po<strong>de</strong>r, n<strong>em</strong> <strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>, n<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po” (BODIN, 2006, p. 49). No campo t<strong>em</strong>poral não há ninguém a qu<strong>em</strong> o príncipe<br />
soberano <strong>de</strong>va prestar contas, pois seu po<strong>de</strong>r é caracterizado pela inexistência <strong>de</strong> condições<br />
prévias, a menos que tais condições <strong>de</strong>riv<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus ou das leis da natureza. “O po<strong>de</strong>r<br />
absoluto dos príncipes e senhores soberanos não se esten<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo algum, às leis <strong>de</strong> Deus e<br />
da Natureza” (BODIN, 2006, p. 53-54). Segundo Mayaki, quando Bodin fala na obediência<br />
magistrado soberano continua no exercício por recorrência à força: “[...] não obstante, o tirano é soberano do<br />
mesmo modo que a possessão violenta do ladrão é possessão verda<strong>de</strong>ira e natural, ainda que vá contra a lei e<br />
seu anterior titular tenha sido <strong>de</strong>spojado” (BODIN, 2006, p. 50). O segundo modo ocorre quando se recebe o<br />
po<strong>de</strong>r soberano por toda sua vida, concedido pelo povo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tal “doação” seja feita “pura e<br />
simplesmente não a título <strong>de</strong> magistrado ou <strong>de</strong> comissário, n<strong>em</strong> <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> precário” (BODIN, 2006, p. 50).<br />
Nesse caso po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar o recebedor como monarca soberano, visto que o povo investiu nele todo seu<br />
po<strong>de</strong>r, prerrogativas e soberania, conforme elenca Bodin.<br />
52 Para compreen<strong>de</strong>r melhor essa questão da concessão t<strong>em</strong>porária do po<strong>de</strong>r, Bodin faz uma comparação ao uso<br />
<strong>de</strong> um imóvel. Quando um proprietário conce<strong>de</strong> a alguém o uso <strong>de</strong> seus bens, ele não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o<br />
proprietário <strong>de</strong>ssas pertenças, ele apenas autoriza que outro faça uso <strong>de</strong> seus bens por um <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>po.<br />
53 Tendo <strong>em</strong> vista essa condição para que o po<strong>de</strong>r seja efetivamente soberano, segundo Bodin, “[...] n<strong>em</strong> o<br />
ditador romano, n<strong>em</strong> o harmote<strong>de</strong> Esparta, n<strong>em</strong> os esimneta <strong>de</strong> Salónica, n<strong>em</strong> o chamado arcus <strong>em</strong> Malta,<br />
n<strong>em</strong> a antiga balie <strong>de</strong> Florença, que tinham a mesma função, n<strong>em</strong> os regentes dos reinos, n<strong>em</strong> qualquer outro<br />
comissário ou magistrado com po<strong>de</strong>r absoluto para dispor da república por t<strong>em</strong>po limitado, nenhum tinha a<br />
soberania.<br />
61