o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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por sua própria energia, ainda que tenha recebido a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquiri-la pela<br />
indulgência <strong>de</strong> outro. Esta potência permanece originalmente sua” (VRIES, 1957, p. 16).<br />
Essa potência da qual Maquiavel nos fala é também aquela correspon<strong>de</strong>nte à fortuna 67 ,<br />
ou seja, aquela força que se manifesta livr<strong>em</strong>ente, dando às coisas o rumo que lhe convém.<br />
Como diz Maquiavel (O Príncipe, XXV), “[...] o mesmo acontece com a fortuna, que<br />
<strong>de</strong>monstra a sua força on<strong>de</strong> não encontra uma virtù or<strong>de</strong>nada”. Por isso, aquele que <strong>de</strong>tém o<br />
po<strong>de</strong>r estatal precisa possuir <strong>de</strong>terminadas qualida<strong>de</strong>s tais como: vonta<strong>de</strong>, inteligência,<br />
corag<strong>em</strong> e experiência. Caso não possua tais proprieda<strong>de</strong>s, não lhe servirão <strong>de</strong> muito as boas<br />
oportunida<strong>de</strong>s. O hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> virtù supera dores físicas e morais e busca <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si<br />
a energia e o ânimo, pois, como nos diz o autor: “[...] já que o nosso livre-arbítrio não<br />
<strong>de</strong>sapareceu, julgo possível ser verda<strong>de</strong> que a fortuna seja árbitro <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossas ações,<br />
mas que também <strong>de</strong>ixe ao nosso governo a outra meta<strong>de</strong>, ou quase” (O Príncipe, XXV).<br />
Ocorre que essa força exterior à vonta<strong>de</strong> humana, <strong>de</strong>nominada fortuna, apesar <strong>de</strong> influenciar<br />
<strong>de</strong>cisivamente o <strong>de</strong>stino, não po<strong>de</strong> ser a única responsável pelos erros e acertos dos homens.<br />
Apesar da fortuna, eles po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre olhar um lugar no qual seja possível <strong>de</strong>senvolver suas<br />
ações engenhosas.<br />
O governante <strong>de</strong> virtù <strong>de</strong>ve se voltar às repercussões práticas <strong>de</strong> suas ações. Deve<br />
aproveitar a ocasião que a fortuna lhe proporcionar, avaliando situações e formulando<br />
<strong>de</strong>cisões que possam ser traduzidas para a realida<strong>de</strong>. É necessário que o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> virtù tenha<br />
consciência plena do seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> agir. Um ex<strong>em</strong>plo disso é encontrado no capítulo VI <strong>de</strong> O<br />
Príncipe, <strong>de</strong>dicado aos principados novos que se conquistam pelas armas e nobr<strong>em</strong>ente.<br />
A história, tal como sab<strong>em</strong>os, é para o florentino uma das fontes mais seguras <strong>de</strong><br />
ensinamentos. Constant<strong>em</strong>ente o autor se volta aos fatos passados e suas obras são repletas <strong>de</strong><br />
longos ex<strong>em</strong>plos que diz<strong>em</strong> respeito aos stati e aos governantes. Segundo ele, a arte <strong>de</strong> imitar<br />
é louvável àqueles que <strong>de</strong>sejam prosperar <strong>em</strong> suas conquistas. Observa ser comum aos<br />
homens percorrer caminhos já antes trilhados, por isso se faz necessário observar as ações dos<br />
gran<strong>de</strong>s homens <strong>de</strong> modo que se possa tirar <strong>de</strong>las o maior proveito possível. Entre esses<br />
67 Virtù e Fortuna são dois <strong>conceito</strong>s que têm sua orig<strong>em</strong> na cultura clássica. A fortuna é uma <strong>de</strong>usa mitológica<br />
pela qual os romanos <strong>de</strong>monstravam admiração e apreensão. Simbolizava o inesperado, o acaso e a<br />
inconstância. Por ser mulher, era <strong>de</strong> natureza caprichosa. Por isso, governava o mundo distribuindo o b<strong>em</strong> e o<br />
mal como lhe aprazia. A fortuna é na verda<strong>de</strong> uma força exterior à vonta<strong>de</strong> humana. Mas, apesar <strong>de</strong><br />
influenciar <strong>de</strong>cisivamente o <strong>de</strong>stino, não po<strong>de</strong> ser atribuída somente a ela a responsabilida<strong>de</strong> pelos erros e<br />
acertos dos homens. Ou seja, apesar da fortuna, os homens po<strong>de</strong>m s<strong>em</strong>pre olhar um lugar no qual possam<br />
<strong>de</strong>senvolver suas ações conforme sua engenhosida<strong>de</strong>. Nesse contexto, a virtù surge <strong>em</strong> contraposição à<br />
fortuna, representando a fortaleza <strong>de</strong> ânimo a <strong>de</strong>terminação e a soli<strong>de</strong>z. Para Maquiavel, o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> virtù<br />
supera dores físicas e morais e busca <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si a energia e o ânimo.<br />
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