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o conceito de stato em maquiavel - Unioeste

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Dentre as várias características que marcam o pensamento <strong>de</strong> Maquiavel, como um<br />

diferencial na forma <strong>de</strong> abordar questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m política, há dois el<strong>em</strong>entos que nos<br />

parec<strong>em</strong>, especialmente, importantes. O primeiro r<strong>em</strong>ete à concepção <strong>maquiavel</strong>iana do<br />

caráter humano 65 . Reportando-nos ao seu dissentimento <strong>em</strong> relação ao pensamento político<br />

clássico, perceb<strong>em</strong>os que o pensador florentino é contrário à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que há nos homens uma<br />

propensão natural a conviver <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>. Na sua avaliação da política, ele parte da<br />

inconstância dos humores e das ações humanas para propor as regras do agir político. Nesse<br />

sentido, e aqui t<strong>em</strong>os o nosso segundo ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, dá ênfase à figura do fundador,<br />

como el<strong>em</strong>ento capital à constituição da sociabilida<strong>de</strong>.<br />

Não olhar o hom<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> uma natureza boa, que ten<strong>de</strong> a um viver social e,<br />

consequent<strong>em</strong>ente, a um b<strong>em</strong> comum, atribuindo, ainda, uma concepção pessimista quanto ao<br />

seu caráter, provocou uma gran<strong>de</strong> mudança no campo da ação política. O pensador florentino<br />

afasta-se da concepção aristotélica <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> político. O hom<strong>em</strong> não é mais visto a partir da<br />

propensão natural <strong>de</strong> viver socialmente. Maquiavel não compartilha da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que há um<br />

fim que conduz os homens naturalmente à vida <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>. Devido às suas observações<br />

dos fatos concretos, Maquiavel constata que a malda<strong>de</strong> presente nos homens impe<strong>de</strong> que esse<br />

ato seja espontâneo. Há, <strong>em</strong> sua obra, uma <strong>de</strong>scrição quanto à inconstância dos humores e das<br />

ações humanas. Assim como apresentam bons comportamentos, os homens também se<br />

portam <strong>de</strong> forma “má” e, segundo o autor, ten<strong>de</strong>m mais a este comportamento do que àquele.<br />

Isso se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que seu agir é pautado por interesses pessoais, como diz Maquiavel<br />

(Príncipe, XVII):<br />

[...] geralmente se po<strong>de</strong> afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos,<br />

volúveis, simuladores e dissimuladores, fog<strong>em</strong> dos perigos, são ávidos <strong>de</strong> ganhar e,<br />

enquanto lhes fizer<strong>em</strong> b<strong>em</strong>, pertenc<strong>em</strong> inteiramente a ti, te oferec<strong>em</strong> o sangue, o<br />

patrimônio, a vida e os filhos, como disse acima, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o perigo esteja distante;<br />

mas quando precisas <strong>de</strong>les, revoltam-se.<br />

65 A forma como Maquiavel aborda a questão da natureza humana é um dos principais fatores que “permit<strong>em</strong>”<br />

uma diversida<strong>de</strong> interpretativa da obra <strong>maquiavel</strong>iana. Atribuir ao hom<strong>em</strong> um caráter que se afasta das utopias<br />

<strong>de</strong> um “<strong>de</strong>ver ser”, voltando-se para a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um “ser”, acaba <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando uma campanha negativa <strong>de</strong><br />

sua própria imag<strong>em</strong>. São muitos os que julgam a conduta política <strong>de</strong>scrita nas obras <strong>de</strong> Maquiavel como uma<br />

clara <strong>de</strong>fesa ao imoralismo. Não perceb<strong>em</strong>, porém, que o campo político <strong>de</strong>terminado pelo autor se distingue<br />

por uma lógica própria. Por essa razão, não há mais espaços para juízos universais, o hom<strong>em</strong> não é mais<br />

avaliado a partir <strong>de</strong> como <strong>de</strong>ve agir, mas da própria forma como proce<strong>de</strong> <strong>em</strong> suas ações.<br />

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