o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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Por isso, como Maquiavel pô<strong>de</strong> perceber, para se construir uma socieda<strong>de</strong> boa não se<br />
po<strong>de</strong>rá utilizar a natureza <strong>de</strong>sse hom<strong>em</strong> como alicerce, pois correrá o risco <strong>de</strong> ver tudo<br />
<strong>de</strong>sabar segundo uma mudança <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peramento.<br />
Essa análise <strong>de</strong> Maquiavel quanto às propensões do hom<strong>em</strong> se dá a partir da percepção<br />
<strong>de</strong> seu caráter real, a partir daquilo que os homens realmente são. Não é mais a partir <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>ver ser que o autor se pauta <strong>em</strong> suas consi<strong>de</strong>rações. A seguinte passag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>scrita no<br />
capítulo XV <strong>de</strong> O Príncipe, aponta para sua intenção:<br />
[...] sendo meu intento escrever algo útil para qu<strong>em</strong> me ler, parece-me mais<br />
conveniente procurar a verda<strong>de</strong> efetiva das coisas do que o que se imaginou sobre<br />
elas. Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram vistos e que<br />
n<strong>em</strong> se sabe se existiram na verda<strong>de</strong>, porque há tamanha distância entre como se<br />
vive e como se <strong>de</strong>veria viver, que aquele que trocar o que se faz por aquilo que se<br />
<strong>de</strong>veria fazer apren<strong>de</strong> antes a arruinar-se que a preservar-se [...]. (O Príncipe, XV).<br />
Deixar-se guiar pela crença <strong>em</strong> uma natureza inexistente po<strong>de</strong> levar qualquer<br />
instituição à ruína. Maquiavel chama nossa atenção ao fato <strong>de</strong> que os homens não po<strong>de</strong>m ser<br />
vistos a partir <strong>de</strong> como gostaríamos que eles foss<strong>em</strong>, mas, sim, a partir daquilo que eles<br />
realmente são. Ora, essa análise comportamental, feita pelo autor, não t<strong>em</strong> como intuito<br />
apenas <strong>de</strong>screver tais condições humanas, <strong>de</strong> forma a se tornar apenas uma investigação<br />
teórica. Tais observações preten<strong>de</strong>m ser úteis àqueles que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> governar, já que eles<br />
<strong>de</strong>verão guiar suas ações s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>rando a forma como os homens viv<strong>em</strong>, e como <strong>de</strong><br />
fato costumam agir. É a partir <strong>de</strong> um conhecimento concreto, a respeito do comportamento<br />
humano, que o governante <strong>de</strong>verá pautar suas ações. Ele <strong>de</strong>verá conhecê-los para saber como<br />
lidar com eles. Segundo Maquiavel (Discursos, I, 3), “[...] qu<strong>em</strong> estabelece uma república e<br />
or<strong>de</strong>na suas leis precisa pressupor que todos os homens são maus [rei] e que usarão a<br />
malignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu ânimo s<strong>em</strong>pre que para tanto tiver<strong>em</strong> ocasião”. O que perceb<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ssa<br />
passag<strong>em</strong> é que a malda<strong>de</strong> humana <strong>de</strong>ve ser s<strong>em</strong>pre um pressuposto. Aqueles que <strong>de</strong>têm o<br />
po<strong>de</strong>r não po<strong>de</strong>m confiar plenamente no caráter humano, por isso é necessário estar s<strong>em</strong>pre<br />
atento a esse pressuposto.<br />
Consi<strong>de</strong>rando essa noção <strong>de</strong> natureza humana, pensar a vida <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong> nos parece<br />
um probl<strong>em</strong>a. Como se po<strong>de</strong> instituir uma vida coletiva quando o hom<strong>em</strong> não propen<strong>de</strong><br />
naturalmente a ela? Ou, ainda, se não é por uma <strong>de</strong>cisão racional, como nos casos dos<br />
contratualistas, que o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> pela vida política, como é possível que ela seja<br />
instituída? Como <strong>de</strong>screve Ames (2002, p. 89), “[...] o probl<strong>em</strong>a consiste <strong>em</strong> explicar <strong>de</strong> que<br />
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