o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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Na carta <strong>de</strong>dicatória dos Discursos, o autor expressa nas primeiras linhas a sua relação prática<br />
e concreta com a vida política: “Mando-vos um presente, que, se não correspon<strong>de</strong> aos<br />
benefícios que vos <strong>de</strong>vo, é s<strong>em</strong> dúvida o maior que Nicolau Maquiavel vos pô<strong>de</strong> mandar.<br />
Porque expressei tudo que sei e aprendi <strong>em</strong> longa prática e contínuas lições das coisas do<br />
mundo” (Discursos, Dedicatória).<br />
Após o exame <strong>de</strong>sse primeiro probl<strong>em</strong>a relacionado ao <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>stato</strong> nos escritos<br />
<strong>de</strong> Maquiavel, outra questão nos pareceu importante para se pensar, qual seja, se Maquiavel,<br />
<strong>em</strong> alguns dos usos feitos do termo o utiliza no sentido mo<strong>de</strong>rno que a palavra conota.<br />
L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que o processo <strong>de</strong> evolução do termo status culmina na noção mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong><br />
Estado. O termo, que inicialmente era utilizado como expressão <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> algum sujeito,<br />
ganha lugar no uso jurídico e plubicista, indicando a condição política <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>terminado<br />
indivíduo. A partir disto, a palavra vai ganhando novas conotações até chegar à concepção <strong>de</strong><br />
Estado Mo<strong>de</strong>rno, à concepção <strong>de</strong> uma instituição política máxima, unitária e soberana.<br />
Pensar no próprio Estado Mo<strong>de</strong>rno é, por vezes, um exercício dispendioso, visto que<br />
tal noção é constituída por el<strong>em</strong>entos que, aos poucos, vão <strong>de</strong>limitando essa nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
do viver civil. É por isso que, para pensar se há uma relação entre o <strong>stato</strong> <strong>de</strong> Maquiavel e o<br />
Estado Mo<strong>de</strong>rno, precisamos pensá-la a partir dos el<strong>em</strong>entos que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> este último.<br />
Quando Condorelli indica que, ao longo do t<strong>em</strong>po, o termo <strong>stato</strong> passou por um<br />
processo <strong>de</strong> subjetivação e objetivação, processo que po<strong>de</strong> ser visto também nos usos que<br />
Maquiavel faz do vocábulo, po<strong>de</strong>ríamos pensar num primeiro indício <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
i<strong>de</strong>ia mo<strong>de</strong>rna nos escritos do florentino. É certo que esse processo só nos r<strong>em</strong>ete a<br />
fragmentos que vão r<strong>em</strong>eter à noção mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> Estado no momento <strong>em</strong> que o termo<br />
possibilita pensá-los <strong>em</strong> conjunto − mais precisamente, no momento <strong>em</strong> que a menção da<br />
palavra faça com que um interlocutor saiba <strong>de</strong> imediato quais são os el<strong>em</strong>entos que ela<br />
implica. Mas este não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um fator importante a ser consi<strong>de</strong>rado, porque, se<br />
Maquiavel optou por utilizar-se <strong>de</strong> um termo para referir-se a sujeitos que possu<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>terminada condição na política, ou para indicar o território ou o povo sobre o qual esses<br />
sujeitos exerc<strong>em</strong> seus domínios, ao invés <strong>de</strong> falar diretamente <strong>de</strong> tais coisas, é porque o autor<br />
<strong>de</strong>ve ter compreendido que a inserção do termo conotaria um sentido político maior.<br />
mas jamais estes termos começam a viver, por assim dizer, uma vida própria. Eles se refer<strong>em</strong> estreitamente<br />
aos fenômenos que ele viu ou enten<strong>de</strong>u na história <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po ou que extraiu da leitura dos escritores<br />
latinos e gregos” (VRIES, 1957, p. 85).<br />
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