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o conceito de stato em maquiavel - Unioeste

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estrutura que não se finda, ou pelo menos Maquiavel reconhece a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algo<br />

s<strong>em</strong>elhante a isso, e essa concepção parece bastante próxima ao sentido mo<strong>de</strong>rno.<br />

A partir do que expus<strong>em</strong>os aqui pensamos que o <strong>stato</strong> <strong>em</strong> Maquiavel é uma realida<strong>de</strong><br />

bastante concreta, mas que fornece vários el<strong>em</strong>entos que constitu<strong>em</strong> a base para a abstrata 81<br />

noção <strong>de</strong> Estado no sentido mo<strong>de</strong>rno 82 . O <strong>stato</strong> <strong>em</strong> Maquiavel é um <strong>stato</strong> que visa uma<br />

autonomia e in<strong>de</strong>pendência política, um <strong>stato</strong> que não preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>svincular-se dos po<strong>de</strong>res da<br />

Igreja, constituindo-se <strong>em</strong> autorida<strong>de</strong> política máxima, que institui suas próprias leis, e que<br />

estabelece estratégias e técnicas para que seu po<strong>de</strong>r não caia <strong>em</strong> mãos estrangeiras. No<br />

capítulo XXVI <strong>de</strong> O Príncipe Maquiavel, aconselhando Lorenzo <strong>de</strong> Médici a seguir os<br />

ex<strong>em</strong>plos dos “homens excelentes que redimiram seus stati”, recomenda que se form<strong>em</strong> bons<br />

exércitos. Esses exércitos têm como principal função <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Itália dos estrangeiros, como<br />

o próprio autor afirma: “[...] é preciso, portanto, preparar esses exércitos para po<strong>de</strong>r, com a<br />

virtù italiana, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se dos estrangeiros”. O <strong>stato</strong>, do qual Maquiavel nos fala, também<br />

possui fundamentos, dos quais, como vimos, os principais são as armas e a leis. Zancarini,<br />

que <strong>de</strong>nomina as armas e as leis como os fundamentos materiais e formais do <strong>stato</strong> <strong>em</strong><br />

Maquiavel, diz que “[...] é preciso acrescentar às ‘boas leis’ os ‘modi e ordini’, quer dizer<br />

modos <strong>de</strong> fazer e funcionamentos, que po<strong>de</strong>m ten<strong>de</strong>r para sentidos institucionais, citados no<br />

capítulo 6”. Condorelli também já havia apontado para esse sentido a partir do qual o <strong>stato</strong><br />

po<strong>de</strong> ser pensado, o <strong>stato</strong> como o modo <strong>de</strong> ser da coisa pública, indicando os três tipos <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>nações citadas por Maquiavel: principado, optimates e popular. Maquiavel, também,<br />

introduz a idéia <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r político supr<strong>em</strong>o e absoluto, e, mesmo que tal po<strong>de</strong>r ainda esteja<br />

estritamente ligado à pessoa do governante, Maquiavel nos ofereceu bases para pensá-lo além<br />

81 Vries cita algumas passagens do Príncipe <strong>em</strong> que ocorre uma personificação do <strong>stato</strong>. Isso po<strong>de</strong> ser percebido<br />

quando, por ex<strong>em</strong>plo, no capítulo IV, quando Maquiavel expressa “parece razoável que todo aquele <strong>stato</strong> se<br />

rebelasse” e, no capítulo XXI, “não se acredite que <strong>stato</strong> algum possa s<strong>em</strong>pre tomar <strong>de</strong>cisões seguras. Pelo<br />

contrário, <strong>de</strong>ve-se s<strong>em</strong>pre levar <strong>em</strong> conta que as <strong>de</strong>cisões são todas dúbias”. Nessas expressões, o <strong>stato</strong><br />

assume o papel <strong>de</strong> alguém que possa se rebelar, que possa <strong>de</strong>cidir, entre outras coisas do gênero, mas Vries<br />

adverte que a personificação do <strong>stato</strong> diz respeito não a uma organização política, mas refere-se ao conjunto<br />

dos altos funcionários políticos que cercam o monarca, conjunto este que “[...] é personificado <strong>de</strong> modo que<br />

ele pensa como uma única pessoa humana” (VRIES, 1957, p.79-81). De acordo com o pesquisador, há dois<br />

motivos pelos quais se po<strong>de</strong> dizer que a noção <strong>de</strong> Estado <strong>em</strong> Maquiavel está <strong>em</strong> vias <strong>de</strong> abstração: primeiro<br />

porque “[...] o Estado estabelecido possui império que antes estava unicamente nas mãos <strong>de</strong> homens<br />

individuais. A segunda prova é fornecida pela personificação do Estado como se ele possuísse capacida<strong>de</strong>s<br />

intelectuais” (VRIES, 1957, p. 91).<br />

82 Em nota explicativa, ao fazer um contraponto à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Ménissier <strong>de</strong> que o <strong>stato</strong> <strong>em</strong> Maquiavel conota<br />

freqüent<strong>em</strong>ente o sentido <strong>de</strong> possessão individual, Adverse indica um modo pelo qual é possível pensar o<br />

<strong>stato</strong> com relação à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Segundo o pesquisador: “é preciso reconhecer que há algo da concepção<br />

mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> estado no pensamento <strong>de</strong> Maquiavel, a saber, no que concerne à soberania. O exercício do po<strong>de</strong>r<br />

não po<strong>de</strong> ser reduzido ao domínio da arte <strong>de</strong> governar, isto é, na ação do príncipe há mais do que<br />

simplesmente a manifestação <strong>de</strong> suas qualida<strong>de</strong>s pessoais”. (ADVERSE, 2009, p. 274-275, nota n. 95).<br />

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