o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
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(HEXTER, 1957, p. 129). O argumento do autor é que, na maioria das vezes <strong>em</strong> que<br />
Maquiavel se utiliza dos termos buono, bene, malo e male, está se referindo ao que é bom ou<br />
àquilo que promove o b<strong>em</strong> ao príncipe e não ao corpo político, pois são poucas as vezes <strong>em</strong><br />
que os termos são aplicados com relação aos súditos 79 . Isso explica, segundo ele, o fato <strong>de</strong><br />
que, no capítulo XII, antes <strong>de</strong> falar <strong>em</strong> fundamentos do <strong>stato</strong>, Maquiavel fala <strong>em</strong> fundamentos<br />
do príncipe: “[...] diss<strong>em</strong>os acima como é necessário a um príncipe ter bons fundamentos;<br />
caso contrário, necessariamente se arruinará”. Para Hexter, essa fala <strong>de</strong> Maquiavel só<br />
confirma que as boas leis e as boas armas serv<strong>em</strong> ao b<strong>em</strong> do príncipe, que elas são os<br />
fundamentos que garantirão que ele não se arruinará.<br />
Ao contrário do que pensa Hexter, não nos parece que Maquiavel tenha pensado no<br />
<strong>stato</strong> apenas como um objeto que serve à ação <strong>de</strong> exploração do príncipe. Não negamos que<br />
exista esse caráter, mas ele não é exclusivo. O fato <strong>de</strong> que o príncipe necessita do<br />
reconhecimento <strong>de</strong> seus súditos para consolidar seu po<strong>de</strong>r e preservá-lo nos parece uma prova<br />
disso, pois, para obter esse reconhecimento, o príncipe <strong>de</strong>ve ir do privado ao público. Para<br />
obter o reconhecimento e ter seu po<strong>de</strong>r convertido <strong>em</strong> autorida<strong>de</strong> política, é preciso voltar-se<br />
às necessida<strong>de</strong>s dos <strong>de</strong>mais homens, <strong>de</strong> modo tal que as ações do príncipe, mesmo que vis<strong>em</strong><br />
interesses egoístas como a manutenção do po<strong>de</strong>r e a obtenção da glória, promovam o b<strong>em</strong><br />
público. Ainda que Maquiavel faça uma exposição maior do que é bom ao príncipe, ele não<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> pensar nas coisas que geram o b<strong>em</strong> aos súditos, <strong>de</strong> modo que, se é o <strong>stato</strong> que<br />
promove esse b<strong>em</strong>, ele não é apenas um mero objeto <strong>de</strong> exploração. E se Hexter acredita que<br />
o “[...] que distingue <strong>stato</strong> <strong>em</strong> Maquiavel do estado como o costumamos pensar, não é que ele<br />
pensa lo <strong>stato</strong> como uma forma <strong>de</strong> exploração, mas que, <strong>em</strong> Il Principe, ele não pensa <strong>em</strong> lo<br />
<strong>stato</strong> <strong>de</strong> outra maneira” (HEXTER, 1957, p. 130), o caráter exploratório do <strong>stato</strong> não nos faz<br />
recuar <strong>em</strong> tentar pensar a correspondência entre um e outro, pois não concordamos que <strong>em</strong><br />
Maquiavel o termo seja utilizado s<strong>em</strong>pre nesse sentido.<br />
Por outro lado, não po<strong>de</strong>mos ignorar que a passag<strong>em</strong> do capítulo XII contenha um<br />
probl<strong>em</strong>a essencial. Não acreditamos que a frase <strong>de</strong> Maquiavel sirva para <strong>de</strong>screver os<br />
fundamentos que servirão unicamente para promover o b<strong>em</strong> ao príncipe, mas que ela só<br />
confirma que, <strong>em</strong> Maquiavel, a pessoa do príncipe, ou a pessoa daquele que está à frente do<br />
po<strong>de</strong>r, está estritamente ligada ao <strong>stato</strong>. O <strong>stato</strong>, no pensamento <strong>de</strong> Maquiavel, t<strong>em</strong> um caráter<br />
pessoal, ou seja, o probl<strong>em</strong>a contido nessa frase, quando nos propomos a pensar a<br />
79 Hexter indica um número <strong>de</strong> 40 ocorrências <strong>em</strong> que os termos se refer<strong>em</strong> ao Príncipe e 6 nas quais é utilizado<br />
com relação ao que é benéfico aos súditos.<br />
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