o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
o conceito de stato em maquiavel - Unioeste
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
maneira os indivíduos são capazes <strong>de</strong> se converter <strong>em</strong> sujeitos políticos quando sab<strong>em</strong>os que<br />
Maquiavel rompe com a idéia da existência <strong>de</strong> um elo entre uma natureza propensa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> si à<br />
vida política, enfim, o b<strong>em</strong> comum ou o b<strong>em</strong> <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>”. Ora, se a formação do <strong>stato</strong> não<br />
po<strong>de</strong> dar-se a partir da tendência natural do hom<strong>em</strong> a conviver socialmente <strong>em</strong> harmonia; se<br />
para Maquiavel não é mais por natureza que os homens buscam o b<strong>em</strong> comum; se a inserção<br />
na vida política não é um ato espontâneo resultante <strong>de</strong> uma propensão natural, <strong>de</strong> que forma é<br />
possível estabelecer a vida política? Ou, o que possibilitaria ao hom<strong>em</strong> tornar-se um sujeito<br />
político? Embora o pensamento <strong>de</strong> Maquiavel nos conduza a tantas dificulda<strong>de</strong>s, não<br />
po<strong>de</strong>mos dizer que a vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, o viver civil, não seja uma finalida<strong>de</strong> da existência<br />
humana. O que precisamos é investigar o modo pelo qual se instaura esse viver social e por<br />
que ele é necessário.<br />
Primeiro, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar que a malda<strong>de</strong> humana não é algo estável. Na verda<strong>de</strong>,<br />
o próprio caráter humano não o é. O mal é uma das muitas condições nas quais o hom<strong>em</strong><br />
po<strong>de</strong> se encontrar. Apesar do pessimismo que Maquiavel <strong>de</strong>monstra quanto ao caráter<br />
humano, ele não estabelece a malda<strong>de</strong> como uma essência. A malda<strong>de</strong> é, na verda<strong>de</strong>, uma<br />
forte propensão <strong>de</strong> seu caráter. Por isso, conhecer e consi<strong>de</strong>rar a inconstância do caráter<br />
humano fará com que o governante fique mais atento quanto aos humores <strong>de</strong> seus súditos,<br />
pois precaver-se é s<strong>em</strong>pre necessário a qu<strong>em</strong> governa. Além disso, essa variabilida<strong>de</strong> que o<br />
comportamento humano apresenta faz com que seja necessário também ao governante saber<br />
conduzir-se s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> uma nova forma. Como diz Maquiavel (O Príncipe XVIII): “[...]<br />
precisa, portanto, ter o espírito preparado para voltar-se para on<strong>de</strong> lhes or<strong>de</strong>nar<strong>em</strong> os ventos<br />
da fortuna e as variações das coisas e [...] não se afastar do b<strong>em</strong>, mas saber entrar no mal se<br />
necessário”.<br />
Em segundo lugar, analisando esta forma como Maquiavel concebe a natureza<br />
humana, perceb<strong>em</strong>os que não há no hom<strong>em</strong> nenhuma regra interna pela qual paute suas ações,<br />
também não é conduzido por uma essência e n<strong>em</strong> por um fim pre<strong>de</strong>terminado. Então, sendo<br />
ele tão instável e tão “carente” <strong>de</strong> normas e <strong>de</strong> princípios, po<strong>de</strong>mos, s<strong>em</strong> prejuízo, afirmar que<br />
é <strong>em</strong> contraposição à natureza humana e não <strong>de</strong> acordo com ela que se faz necessária a<br />
instauração da vida política. Em outras palavras, po<strong>de</strong>r-se-ia pensar que a teoria <strong>de</strong> Maquiavel<br />
prega a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma política voltada à vida associada; porém, ao contrário do que<br />
parece, é <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> que brota a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma organização − um novo âmbito<br />
político <strong>em</strong> que os governantes não mais po<strong>de</strong>riam confiar na sociabilida<strong>de</strong> natural entre os<br />
82