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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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de evolução que pertence a todos os seres e que faz parte inclusive de uma profecia<br />

bíblica: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!”<br />

Mas o “especialista em índios”, seja ele o jurídico, o parlamentar, o indigenista<br />

que insistia <strong>na</strong> sua forma vesga de ver o índio, tratou de criar conceitos para esse novo<br />

modelo de índio, numa demonstração evidente da discrimi<strong>na</strong>ção gerada ao longo do<br />

tempo, inclusive pelos modelos educacio<strong>na</strong>is do homem branco, ora como o índio<br />

selvagem, o índio preguiçoso e agora como o índio aculturado.<br />

Assim, os jovens indíge<strong>na</strong>s de Brasília com formação mais crítica <strong>na</strong>s formas de<br />

leitura do homem branco, decidiram, ainda que involuntariamente, criar um movimento<br />

indíge<strong>na</strong> mais amplo, com visão de liberdades democráticas, de direito ambiental, de<br />

direitos humanos e direitos indíge<strong>na</strong>s, mas sob a ótica do próprio indíge<strong>na</strong>, onde o direito<br />

de viver <strong>na</strong>scia sob uma visão cultural e política baseado no direito de ser diferente e ser<br />

gente, trazendo nisso uma mensagem de que existia a possibilidade de convivência entre<br />

duas histórias, duas identidades e duas formas de vida, porém, sem preconceito ou<br />

exclusão, mas tolerância e bem viver, mesmo <strong>na</strong> diferença.<br />

II - Ser índio, ser gente<br />

“hingá yuhoikopea úti vemo-ú!” – se um índio da <strong>na</strong>ção Tere<strong>na</strong> ouvisse esses<br />

sons em Nova Iorque, São Paulo ou Brasília, imediatamente saberia o significado e<br />

provavelmente “viajaria” entre essas palavras até sua infância. Mas, se ele visse essa frase<br />

num letreiro ou outdoor, certamente ele demoraria alguns minutos, dias e até mesmo<br />

sema<strong>na</strong>s para identificar aquela mensagem como uma mensagem de seu povo, já que a<br />

<strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> é essencialmente oral, passada de pai para filho, como numa tabuada<br />

que origi<strong>na</strong>lmente tem ape<strong>na</strong>s três números: “poihácho, piácho, mopoácho”.<br />

Como fazer então? Quais seriam exatamente os direitos indíge<strong>na</strong>s no campo<br />

educacio<strong>na</strong>l? Ape<strong>na</strong>s aprender a ler e a escrever? Ape<strong>na</strong>s tor<strong>na</strong>r-se um aluno de nível<br />

médio de um curso de técnico agrícola?<br />

O conceito de ser educado sempre foi uma tradição indíge<strong>na</strong> no seu habitat<br />

(ecossistema e cosmovisão), mesmo sem saber ler e escrever as mal traçadas linhas do<br />

alfabeto do homem branco. A palavra da mulher indíge<strong>na</strong> sempre foi papel preponderante<br />

no armaze<strong>na</strong>mento de informações ao longo da ancestralidade, como base educacio<strong>na</strong>l<br />

da criança, desde seu <strong>na</strong>scimento até o caminho das estrelas.<br />

A <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> era o fortalecimento da sabedoria, da língua, da cultura, da<br />

economia e da política daquele povo. A <strong>educação</strong> indíge<strong>na</strong> tinha sua sustentabilidade <strong>na</strong><br />

confiança do índio em si mesmo e no respeito mútuo, fosse ele uma criança, adolescente,<br />

jovem ou ancião.<br />

Por outro lado, graças à percepção das lideranças indíge<strong>na</strong>s, quando não podiam<br />

compreender o emaranhado burocrático e lingüístico das leis e de seus direitos, passaram<br />

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