Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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É ao desenvolvimento de uma crítica consistente da situação da população negra e nãobranca<br />
realizada, primeira e principalmente, pelo movimento social negro e,<br />
posteriormente, por poucos intelectuais negros e brancos que se deve atribuir os avanços<br />
políticos no tratamento da questão racial no Brasil.<br />
Costa, ao contrastar criticamente as posições em confronto, observa que elas<br />
possuem lacu<strong>na</strong>s no tratamento dispensado à mestiçagem. O autor cobra ao anti-racismo<br />
integracionista “uma maior atenção para com o componente racial da ideologia da<br />
mestiçagem” e ao anti-racismo igualitarista a não redução do ideário da democracia racial<br />
a uma ideologia racial (Costa, 2002, p. 112).<br />
Dito de outra forma, o mito que reinventa o Brasil dos anos 1930 não é racial,<br />
“mas um construto amplo que reorde<strong>na</strong> e reorganiza os valores e posições sociais no<br />
campo da cultura, do gênero, das regiões etc.” (Costa, 2002, p. 112). Da mesma forma é<br />
possível entrever que a ideologia da mestiçagem possui dentre outras dimensões uma<br />
dimensão racial que fica obscurecida <strong>na</strong> abordagem do anti-racismo integracionista (Costa,<br />
2002, p. 113). Costa, também, chama nossa atenção para o fato de<br />
“ao privilegiar a focalização da cultura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, os integracionistas<br />
muitas vezes definem como um repertório fixo de representações algo<br />
que se encontra em permanente movimento, perdendo, assim, de vista<br />
fenômenos recentes que mostram a profunda heterogeneização cultural<br />
inter<strong>na</strong> e a própria ascensão da etnicidade negra ou afro-brasileira, cuja<br />
emergência é inseparável dos movimentos culturais trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de<br />
reinvenção do vínculo com a África”. (Costa, 2002, p. 113)<br />
Ciente do consenso em torno da idéia de que raça é uma construção social, a<br />
questão parece se resumir à capacidade que tal categoria teria de desvendar o nexo<br />
oculto <strong>na</strong> lógica das hierarquias encontradas no Brasil. Dessa forma, apoiado <strong>na</strong><br />
tradição de estudos sobre desigualdades raciais, é possível verificar algumas conclusões<br />
que perpassam os diferentes estudos e que, aparentemente, distinguem integracionistas<br />
e igualitaristas:<br />
i) as desigualdades sociais entre os cinco grupos de cor identificados pelas<br />
estatísticas oficiais brasileiras – pretos, brancos, pardos, amarelos e indíge<strong>na</strong>s<br />
– podem ser agrupadas em dois únicos grupos: brancos e não brancos2 . Isto<br />
significa que, à despeito das tantas variações cromáticas com as quais as<br />
pessoas se auto-representam, o acesso às oportunidades sociais obedece a<br />
uma hierarquia bipolar;<br />
2 Amarelos e indíge<strong>na</strong>s ficam fora das simulações estatísticas feitas pelos estudos sobre desigualdades raciais por<br />
serem grupos demográficos minoritários.<br />
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