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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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a dar maior importância para o jovem indíge<strong>na</strong> que corria livre <strong>na</strong> selva. Mesmo sem<br />

saber o que poderia advir de tudo isso, era necessário romper um desafio entre tradição e<br />

modernidade, tor<strong>na</strong>ndo-o um ca<strong>na</strong>l capaz e confiável <strong>na</strong>s relações com o mundo externo<br />

das aldeias, onde a figura indíge<strong>na</strong>, por mais que falasse outras línguas, tivesse diversas<br />

diplomações, nunca deixaria de ser índio, mesmo que disso fugisse pela vergonha ou<br />

pela imposição da história.<br />

Assim, criou-se um perfil indíge<strong>na</strong> construído pelos próprios indíge<strong>na</strong>s – o índio<br />

estudante – com direito ao ensino bilíngüe, bi-cultural e não somente com direito ao<br />

aprendizado que chamamos de primário, mas a capacidade de usar sua inteligência para<br />

as provas de capacitação técnica e intelectual para sua autodetermi<strong>na</strong>ção ao optar dentre<br />

os diversos cursos, concursos e provas como o vestibular. Muitos indíge<strong>na</strong>s estudaram,<br />

fizeram as provas e passaram. Outros indíge<strong>na</strong>s, no entanto, estudaram, fizeram as provas<br />

e reprovaram. Diversos indíge<strong>na</strong>s estudaram, não fizeram as provas e voltaram para suas<br />

aldeias. Diversos indíge<strong>na</strong>s também ficaram <strong>na</strong>s aldeias...<br />

Os povos indíge<strong>na</strong>s percebem, a partir de então, que têm direitos inclusive<br />

históricos à liberdade de opinião e de expressão, como um b+a=ba, suplantando pouco<br />

a pouco, porém num caminho sem volta, o papel até então conduzido pelas entidades<br />

não-gover<strong>na</strong>mentais ou gover<strong>na</strong>mentais, que sempre falaram pelo índio, inclusive <strong>na</strong>s<br />

formulações e decisões.<br />

III - O índio doutor<br />

“Vamos aprender a ler a nossa língua” diz a tradução da mensagem escrita <strong>na</strong><br />

língua Tere<strong>na</strong>, como provavelmente está escrito em diversas das 180 línguas faladas,<br />

como uma determi<strong>na</strong>ção dos novos tempos. Tempo de comunicação com a velocidade do<br />

computador. Tempo de uma nova linguagem educativa que substitui muitas vezes a<br />

saudosa professora pela máqui<strong>na</strong>, numa imagem virtual. Tempo em que o índio não quer<br />

ape<strong>na</strong>s ser a figura do passado das histórias do Brasil, mas parte legítima da formulação<br />

do seu direito de ser e de se manifestar como índio e povo indíge<strong>na</strong>, distante da figura<br />

marcante do “bom selvagem” ou do “selvagem” que precisa morrer para viver como um<br />

futuro “não índio”. Hoje, o índio trabalha também <strong>na</strong> <strong>educação</strong> do homem branco, pois<br />

se tor<strong>na</strong> importante que a sociedade envolvente passe a conhecer os diversos matizes<br />

indíge<strong>na</strong>s como pessoa, como povo e como parte do Brasil.<br />

Todo índio deveria acessar aos novos conhecimentos num processo educacio<strong>na</strong>l<br />

que <strong>na</strong>sce ainda <strong>na</strong>s comunidades, que respeite os valores tradicio<strong>na</strong>is e que crie uma<br />

ponte de interlocução com os novos valores educativos, que se somem e que jamais se<br />

anulem como ocorreu no passado. Cursar o nível superior é um processo legítimo dos<br />

povos indíge<strong>na</strong>s, não por ser indíge<strong>na</strong>, mas por ser um caminho educacio<strong>na</strong>l que requer<br />

uma série de procedimentos e investimentos que não possa ser visto no futuro como uma<br />

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