Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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Abordar o tema dos valores civilizatórios, seja <strong>na</strong> sociedade brasileira ou em<br />
qualquer outra sociedade com características pluriculturais semelhantes, não é tarefa de<br />
pouca dificuldade, sobretudo quando nos ocupamos em identificar seus conteúdos e<br />
significados amplos a partir de um referencial circunscrito a um universo cultural, por<br />
definição de pouca precisão, no caso que nos interessa, o universo cultural afro-brasileiro.<br />
Sendo assim, antes mesmo de propormos formas de introduzir os valores civilizatórios<br />
afro-brasileiros <strong>na</strong> elaboração dos currículos escolares, convém especificarmos, ainda<br />
que brevemente, qual a nossa compreensão do tema e, sobretudo, deixar clara a posição<br />
teórica que referencia essa nossa compreensão.<br />
Se tão somente considerarmos os traços notórios da presença africa<strong>na</strong> no Brasil<br />
– da língua à densidade numérica, da arte à religiosidade –, dada a extensão e significado<br />
desta presença, pensar em valores civilizatórios afro-brasileiros é quase o mesmo que<br />
pensar em valores civilizatórios <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Perguntaríamos, então: qual a forma mais<br />
adequada de caracterizar os fundamentos e significados de determi<strong>na</strong>das práticas que<br />
envolvem os descendentes de africanos no Brasil que, no conjunto, nos possibilite atribuirlhes<br />
o estatuto de valores civilizatórios, ou seja, uma reunião articulada de proposições<br />
éticas, relacio<strong>na</strong>is e existenciais que responde por uma especificidade no interior da<br />
chamada civilização brasileira?<br />
O caminho mais seguro e, certamente, o mais usual é o esforço em identificar, no<br />
interior do complexo cultural brasileiro, sobretudo através da interpretação dos<br />
significados mais amplos das manifestações hegemonizadas numérica ou culturalmente<br />
pelas populações negras, recriações cosmológicas herdadas de sociedades africa<strong>na</strong>s précoloniais<br />
ou mesmo similares às dimensões culturais mais profundas das sociedades<br />
africa<strong>na</strong>s contemporâneas.<br />
Evidentemente, por ser a sociedade brasileira composta <strong>na</strong> sua grande maioria<br />
por afro-descendentes, há um número considerável dessas recriações que nos une ao<br />
continente africano de forma inexorável. Alguns exemplos conhecidos e presentes <strong>na</strong><br />
bibliografia especializada podem ser aqui enumerados: as concepções diferenciais de<br />
morte e ancestralidade; o significado cosmológico da vida huma<strong>na</strong> e da relação com a<br />
<strong>na</strong>tureza; a oralidade como forma privilegiada da comunicação e transmissão dos saberes,<br />
bem como o valor da palavra e o caráter sagrado de todas as dimensões da existência<br />
huma<strong>na</strong>.<br />
Não obstante a necessária identificação desses valores, cremos ser de igual ou de<br />
maior importância considerarmos a forma como os concebemos. A elevação desses valores<br />
a verdadeiros redentores da nossa dignidade e identidade, aviltadas pela supremacia dos<br />
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