Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
– a identidade de resistência, que é produzida pelos atores sociais que se<br />
encontram em posição ou condições desvalorizadas ou estigmatizadas pela<br />
lógica domi<strong>na</strong>nte. Para resistir e sobreviver, eles se barricam <strong>na</strong> base dos<br />
princípios estrangeiros ou contrários aos que impreg<strong>na</strong>m as instituições<br />
domi<strong>na</strong>ntes da sociedade (ver Calhoun, Craig (ed). Social theory and the Politics<br />
of identity. Oxford: Blackwell, 1994, p. 17; apud Castells, op. cit. p. 18); e<br />
– a identidade-projeto: quando os atores sociais, com base no material cultural<br />
à sua disposição, constroem uma nova identidade que redefine sua posição<br />
<strong>na</strong> sociedade e, conseqüentemente, se propõem em transformar o conjunto da<br />
estrutura social. É o que acontece, por exemplo, quando o feminismo abando<strong>na</strong><br />
uma simples defesa da identidade e dos direitos da mulher para passar à<br />
ofensiva, colocar em causa o patriarcado, ou seja, a família patriarcal, todas as<br />
estruturas de produção e reprodução, da sexualidade e da perso<strong>na</strong>lidade, sobre<br />
as quais as sociedades são historicamente fundadas. Naturalmente, uma<br />
identidade que surge como resistência pode mais tarde suscitar um projeto<br />
que, depois, pode se tor<strong>na</strong>r domi<strong>na</strong>nte no fio da evolução histórica e<br />
transformar-se em identidade legitimadora, para racio<strong>na</strong>lizar sua domi<strong>na</strong>ção.<br />
A dinâmica das identidades no decorrer desta cadeia mostra suficientemente<br />
como, do ponto de vista da teoria sócio-antropológica, nenhuma delas pode<br />
ser uma essência, ou ter um valor progressivo ou regressivo em si fora do<br />
contexto histórico.<br />
A dinâmica das sociedades e culturas moder<strong>na</strong>s foi sempre acompanhada de<br />
uma certa idéia da humanidade, de uma apreensão do ser humano pensado essencialmente<br />
através das noções de igualdade e de liberdade. Na medida em que a significação dessa<br />
idéia moder<strong>na</strong> da humanidade e seu alcance foram aperfeiçoando-se, ela se viu atravessada<br />
por uma tensão muito forte entre duas exigências comparativamente autênticas (Mesure,<br />
Sylvie; Re<strong>na</strong>ut, Alain. Alter Ego. Les Paradoxes de l’identité démocratique. Paris: Aubier,<br />
1999, p. 18).<br />
A primeira experiência, veiculada por essa nova idéia (democrática) de<br />
humanidade é cronologicamente mais antiga. Ela corresponde à convicção constitutiva<br />
de um primeiro humanismo moderno, segundo a qual a humanidade é uma <strong>na</strong>tureza ou<br />
uma essência. Na lógica desse humanismo chamado essencialista (tal como se desenvolveu<br />
de Grotius ou Pufendorf à filosofia das luzes), a humanidade define-se pela posse de uma<br />
identidade específica ou genérica (por exemplo, a que faz do homem um animal racio<strong>na</strong>l).<br />
No horizonte dessa primeira exigência afirma-se com clareza os valores do universalismo<br />
ou do humanismo abstrato, universalista e democrático, tal como foi concebido pela<br />
afirmação segundo a qual existe uma <strong>na</strong>tureza comum a todos os homens, idênticos em<br />
cada um deles, em virtude da qual eles têm os mesmos direitos, quaisquer que sejam suas<br />
características distintivas (de idade, de sexo, de etnia etc.). O primeiro artigo da Declaração<br />
dos Direitos do Homem de 1789, constitui a expressão mais familiar dessa experiência<br />
40