Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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no interior da própria escravidão. Reconhece-se também que as possibilidades<br />
interpretativas dessa forma diferenciada de angular o processo, com suas variáveis e<br />
desdobramentos, obrigaram esforços no sentido de uma ampla revisão crítica das bases<br />
teórico-metodológicas anteriores, assim como a edificação ou adoção de postulados que,<br />
ancorados em pesquisas cuidadosas quanto à definição dos temas, periodizações e objetos,<br />
garantiram o seu rigor.<br />
No conjunto desses estudos, o binômio escravidão-liberdade, alicerçado em um<br />
conceito ampliado de resistência, possibilitou o rompimento justificado com a idéia de<br />
escravidão concebida estruturalmente e, à luz de novos significados atribuídos a termos<br />
conceituais mediadores, como por exemplo: pater<strong>na</strong>lismo, hegemonia, cultura e<br />
experiência, inclusive, valores civilizatórios, facilitou o desvendamento das múltiplas<br />
variáveis da relação fundamental entre senhores e escravos.<br />
É forte a idéia de que a dinâmica das relações entre senhores e escravos – e outras<br />
formas de relações verticais correlatas, no interior de uma, digamos, economia moral<br />
pater<strong>na</strong>lista que aproximava, não sem conflitos, uns e outros, em meio a resistências e<br />
arranjos de acomodação cotidianos –, forjou um espaço social no interior do qual os<br />
escravos construíram um mundo próprio, relativamente autônomo, e que também<br />
configura-se <strong>na</strong> contemporaneidade como nossa herança.<br />
Tanto esta idéia de pater<strong>na</strong>lismo quanto a de experiência como lastro histórico<br />
concreto no fazer-se das coletividades (grupais ou de classes), com implicações formativas<br />
ao nível da sua consciência e cultura, libertaram a historiografia sobre a escravidão dos<br />
esquemas interpretativos tradicio<strong>na</strong>is, pouco ou <strong>na</strong>da flexíveis e, <strong>na</strong> maioria das vezes,<br />
absolutamente infrutíferos do ponto de vista da necessidade de construção de uma nova<br />
memória capaz de orientar as lutas anti-racistas contemporâneas.<br />
Alguns procedimentos historiográficos, inclusive, já avançam hipóteses mais<br />
ousadas sobre a interpretação das <strong>experiências</strong> negras no Brasil, adentrando no núcleo<br />
do que tem sido considerado como valores civilizatórios afro-brasileiros. Um exemplo é<br />
a tentativa de tematizar conteúdos pouco usuais no campo da historiografia. O historiador<br />
e professor da Universidade Estadual de Campi<strong>na</strong>s, Sidney Chalhoub, no capítulo<br />
intitulado Raízes culturais negras da tradição vacinophobica, do seu livro Cidade Febril<br />
(1996), através de um método origi<strong>na</strong>lmente batizado por ele de “saltos e saltinhos”,<br />
emprestado à perso<strong>na</strong>gem machadia<strong>na</strong> Capitú, busca <strong>na</strong>s tradições africa<strong>na</strong>s dos mitos<br />
das divindades da terra como Omolu/Obaluaiê (<strong>na</strong>gô) / Xapanã (jêje) valores culturaisreligiosos,<br />
cuja recriação/atualização no Brasil, através das populações afro-descendentes,<br />
acredita-se, funcionou como orientadora cultural <strong>na</strong> reação popular à vaci<strong>na</strong>ção obrigatória<br />
contra a febre amarela no conflito conhecido como a Revolta da Vaci<strong>na</strong>, ocorrido no<br />
começo do século XX, <strong>na</strong> cidade do Rio de Janeiro. Citando um outro historiador origi<strong>na</strong>l<br />
<strong>na</strong> adoção de um método semelhante, escreve Chalhoub (1996, p.144):<br />
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