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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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Entre os temas articulados à questão mais ampla dos paradoxos no pensamento<br />

contemporâneo, coube a Ernst Von Glaseisfeld abordar “A construção do conhecimento”.<br />

Como recurso de exposição do modo de pensar construtivista, ele utilizou fontes de sua<br />

própria biografia para justificar seu interesse pelas teorias do conhecimento e, ao mesmo<br />

tempo, fazer um balizamento de aspectos que considera importantes para a compreensão<br />

do pensamento construtivista.<br />

Von Glaseisfeld (1996: 76) conta que cresceu sem uma língua mater<strong>na</strong> determi<strong>na</strong>da.<br />

Teve inicialmente duas línguas mater<strong>na</strong>s e como aprendeu em seguida mais uma, considera<br />

que foram três: “Cresci entre as línguas mais do que com uma em praticular”.<br />

Essa vivência lingüística peculiar premitiu-lhe uma experiência de linguagem e<br />

de visão de mundo incomum, projetiva do todo. Segundo ele, partindo dessa experiência<br />

vivida, ainda que em sendo particular, também constatou que uma criança aprende sem<br />

dificuldades duas ou três línguas, desde que as fale no cotidiano. Utilizando-as no dia-adia,<br />

passa sem problemas de uma língua a outra, de acordo com quem fale, sem se dar<br />

“conta de que fala com distintas pessoas em línguas diferentes”. À medida que cresceu,<br />

porém, essa “poliglossia” foi se tor<strong>na</strong>ndo problemática, pois começou a perceber que<br />

cada língua comporta uma visão de mundo.<br />

“Supondo que fale italiano, inglês e alemão, se dá conta de que quando<br />

fala italiano parece ver o mundo de maneira distinta do que quando fala<br />

inglês ou alemão. Advirto que não se trata simplesmente de uma questão<br />

de gramática ou de vocabulário, mas de uma maneira de contemplar o<br />

mundo”. (Von Glaseisfeld, 1996, p. 76)<br />

Bem, este é um ponto de partida que me pareceu interessante para começar a<br />

pensar a questão que esta mesa propõe: “Valores civilizatórios indíge<strong>na</strong> e afro-brasileiros:<br />

saberes necessários para formulação de políticas educacio<strong>na</strong>is”.<br />

Os grupos indíge<strong>na</strong>s que mantêm sua língua, através dela vêem o mundo, pensam<br />

e se comunicam. A língua é, portanto, um valor civilizatório essencial. Como, todavia,<br />

estão imersos num contexto plural, embora compartilhando um horizonte interno cultural<br />

e socialmente construído, esse horizonte de sua própria sociedade e cultura se inscreve<br />

num horizonte mais amplo, com outro idioma cultural que incorpora fragmentariamente,<br />

aprendido e apreendido no contato.<br />

A escolarização entendida como um instrumento de aquisição do idioma cultural<br />

domi<strong>na</strong>nte, em que a escrita desempenha papel destacado <strong>na</strong> comunicação formal, de<br />

caráter institucio<strong>na</strong>l, impõe uma nova maneira de contemplar o mundo. Sob esse ângulo<br />

de visão, a <strong>educação</strong> escolar indíge<strong>na</strong> coloca, de dentro para fora alguns problemas.<br />

Quero destacar três: a produção de sentido da <strong>educação</strong> escolar, a alfabetização <strong>na</strong><br />

língua mater<strong>na</strong> e em português, a interculturalidade e interdiscipli<strong>na</strong>ridade no trabalho<br />

pedagógico.<br />

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