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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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Recentemente, uma análise similar foi feita para os povos indíge<strong>na</strong>s e colonizados em<br />

geral. Estima-se que, desde o descobrimento, os europeus fizeram deles uma imagem<br />

inferior e não civilizada e que foram capazes de impor essa imagem aos povos subjugados<br />

pela força. O perso<strong>na</strong>gem de Caliban simbolizaria melhor o retrato desdenhoso dos<br />

aborígines do novo mundo.<br />

Nessas perspectivas, a falta de reconhecimento não ape<strong>na</strong>s revela o esquecimento<br />

do respeito normalmente devido. Ela pode infligir uma ferida cruel ao oprimir suas vítimas<br />

de um ódio de si paralisante. O reconhecimento não é simplesmente uma cortesia que as<br />

faz à pessoas: é uma necessidade huma<strong>na</strong> vital (Taylor, Charles, op. cit., p. 42).<br />

“Assim, minha descoberta da minha própria identidade não significa que<br />

a elaboro no isolamento, sim a negocio por diálogo, parcialmente exterior,<br />

parcialmente interior, com os outros. É a razão pela qual o desenvolvimento<br />

de um ideal de identidade engendrado interiormente dá uma nova<br />

importância ao reconhecimento. Minha própria identidade depende<br />

virtualmente de minhas relações dialógicas com os outros” (Taylor, Charles,<br />

op. cit. p. 52).<br />

Em nosso foro interior, somos todos conscientes que nossa identidade pode ser<br />

formada ou deformada no decorrer de nossos contatos com os outros “doadores de sentido”<br />

No plano pessoal, pode-se ver até que ponto uma identidade origi<strong>na</strong>l necessita de um<br />

reconhecimento dado ou retido por outros “doadores de sentido”, até que ponto ela é<br />

vulnerável (Taylor, Charles, op. cit., p. 54).<br />

Um dos autores defensores dessa idéia da exigência do reconhecimento é sem<br />

dúvida Frantz Fanon. Em seu famoso livro “Os Conde<strong>na</strong>dos da Terra”, ele sustenta que a<br />

arma essencial dos colonizadores era a imposição da imagem dos colonizados sobre os<br />

povos submissos. Para se libertarem, estes últimos devem, antes de mais <strong>na</strong>da,<br />

desembaraçar-se dessas imagens em si depreciativas. Fanon recomendava a violência<br />

como forma de liberação, em resposta à violência origi<strong>na</strong>l da domi<strong>na</strong>ção estrangeira.<br />

Todos aqueles que se inspiraram de Fanon não seguiram esta via, mas a idéia de luta para<br />

mudar a imagem de si – ao mesmo tempo no espírito do domi<strong>na</strong>do e contra o domi<strong>na</strong>dor<br />

– foi amplamente aplicada. Essa idéia tornou-se fatal em algumas correntes feministas e<br />

também um elemento muito importante no debate contemporâneo sobre o<br />

multiculturalismo.<br />

O lugar essencial deste debate é o mundo da <strong>educação</strong> no sentido amplo, em<br />

particular os departamentos de estudos clássicos das universidades, onde se multiplicam<br />

(<strong>na</strong>s universidades america<strong>na</strong>s) as demandas para modificar, alargar ou restringir o cânone<br />

dos autores acadêmicos, tendo como motivo que o cânone hoje em vigor é quase<br />

inteiramente composto de “machos brancos e mortos”. Seria preciso, dizem, reservar um<br />

maior espaço às mulheres e aos povos de raças e culturas não-européias.<br />

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