Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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Robert Slenes vem demonstrando que as culturas religiosas da<br />
África Central informavam muito do que os escravos do sudeste<br />
pensavam de sua condição, sendo mesmo decisivas <strong>na</strong> articulação de<br />
formas de resistência ao cativeiro. Sendo assim, o que é necessário fazer<br />
para reforçar a hipótese da importância de Omolu <strong>na</strong> resistência à<br />
vaci<strong>na</strong>ção, é mostrar a possibilidade real de reinterpretação desse orixá<br />
em termos dos pressupostos cosmológicos básicos dos povos da África<br />
Central.<br />
Está claro que estas concepções e inovações temáticas e teórico-metodológicas<br />
cumpriram um papel decisivo, no sentido de nos orientar a pensar a escravidão e os<br />
próprios escravos para além da sua mera posição <strong>na</strong> estrutura produtiva. As interpretações<br />
pautadas nesses princípios relativizam o peso estrutural do escravismo como sistema<br />
para que os escravos possam emergir como sujeitos <strong>na</strong> história, assim como, sujeitos da<br />
sua própria história. Mas, mesmo reconhecida a importância intelectual desta virada<br />
teórico-metodológica e temática, particularmente continuo acreditando que, às nossas<br />
demandas políticas, culturais e de luta anti-racista contemporâneas, a história da África,<br />
a história da escravidão brasileira ou mesmo a história da presença da África no Brasil,<br />
através de valores recriados ou de qualquer outro expediente histórico-cultural, só farão<br />
sentido – parafraseando uma frase significativa de Stuart Hall – se forem recontadas<br />
através da política da memória e do desejo.<br />
Para fi<strong>na</strong>lizar exponho, de modo sintético, alguns aspectos iniciais, portanto<br />
provisórios, de um trabalho que tenta dar operacio<strong>na</strong>lidade à conjunção entre memória e<br />
história de populações afro-descendentes, <strong>na</strong> perspectiva de uma interpretação alter<strong>na</strong>tiva<br />
aos postulados hegemônicos.<br />
Em execução há dois anos, o projeto de pesquisa intitulado: Negras Lembranças:<br />
memórias da dor e da alegria, desenvolvido no recôncavo sul do Estado da Bahia, através<br />
dos procedimentos da história oral, tem como objeto as memórias de velhos afrodescendentes<br />
moradores da região e, como objetivos, identificar e interpretar os<br />
significados que por eles são atribuídos às suas <strong>experiências</strong> no mundo do trabalho, <strong>na</strong>s<br />
relações de parentesco e vizinhança, no universo da religiosidade, das festas e de outras<br />
formas de expressão criativas.<br />
As histórias de vida – opção inicial acerca do formato dos depoimentos –, registram<br />
em proporção significativa, fatos, práticas, processos, hábitos e concepções que configuram<br />
aquilo que Paul Gilroy (2001) codificou conceitualmente como o “sublime”, ou seja, a<br />
dimensão redentora da dor ou a capacidade criativa que as populações negras tinham, <strong>na</strong><br />
escravidão, e têm, ainda hoje, de transformar a experiência da exclusão social, da opressão,<br />
do preconceito e da discrimi<strong>na</strong>ção racial em substrato cultural-existencial vívido, voltado<br />
para a afirmação positiva e celebração da vida, principalmente através da inventividade<br />
<strong>na</strong>s formas de expressão criativas como a música, a literatura, a dança e outras artes<br />
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