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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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cultural, oferecem exemplos de dois países com unidade e consciência <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l muito<br />

consolidadas. No oposto, temos o exemplo da Somália, que é uma grande homogeneidade<br />

cultutal, pois formado ape<strong>na</strong>s por um grupo étnico, mas que não consegue formar sua<br />

unidade e consciência <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Atribuindo à identidade um conteúdo político como<br />

sempre o fiz em meus trabalhos, não vejo como fazer dela uma figura mestiça, pois<br />

construída no terreno das exclusões, portanto do político. Negros, índios, mulheres,<br />

homossexuais, classes sociais e outras diversidades regio<strong>na</strong>is produzem identidades<br />

diversas e não mestiças. Cultura e comunidade não devem ser confundidas, porque<br />

nenhuma sociedade aberta às trocas e às mudanças tem unidade cultural completa, tendo<br />

em vista que as culturas são construções que se transformam constantemente ao<br />

reinterpretar <strong>experiências</strong> novas. O que tor<strong>na</strong> artificial a busca de uma essência ou de<br />

uma alma <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, ou ainda a redução da cultura a um código de condutas.<br />

Por isso, critico a idéia de que uma sociedade deve ter uma unidade cultural, seja<br />

da razão, de uma religião, de uma etnia ou, no caso do Brasil, de uma unidade cultural<br />

construída pela mestiçagem biológica (a miscige<strong>na</strong>ção) e pela mestiçagem cultural (o<br />

sincretismo).<br />

A questão fundamental que permanece colocada é saber como podemos combi<strong>na</strong>r<br />

a igualdade com a diversidade para podermos viver harmoniosamente juntos? Não vejo<br />

outro caminho a não ser a associação da democracia política com a diversidade cultural<br />

baseadas <strong>na</strong> liberdade do sujeito. O ego e o alter estão sempre juntos, numa relação<br />

dialógica. Não há uma sociedade multicultural possível sem o recurso a um princípio<br />

universalista que permite a comunicação entre indivíduos e grupos socialmente e<br />

culturalmente diferentes. Mas também não há uma possível se este princípio universalista<br />

comanda uma concepção da organização social e da vida pessoal que se julga normal e<br />

superior aos outros. Deve-se criticar a identificação dos direitos do homem com certas<br />

formas de organização social, em particular com o liberalismo econômico, mas é também<br />

importante afirmar o direito à liberdade e à igualdade de todos os indivíduos nos limites<br />

que não devem franquear nenhum governo, nenhum código jurídico, e que concerne ao<br />

mesmo tempo os direitos culturais, como os das mulheres, os direitos políticos como a<br />

liberdade de expressão e de escolha. Penso aqui no caso limite de Salman Rushdie, autor<br />

dos Versos Satânicos. O Islão não faz a separação entre o religioso e o político, o indivíduo<br />

e a sociedade, o público e o privado. Colocado no contexto islâmico, Salman Rushdie é<br />

condenável. Acontece também que aquele contexto faz parte da cultura muçulma<strong>na</strong> <strong>na</strong><br />

diáspora presente também <strong>na</strong> Inglaterra. Por isso, dizer simplesmente “aqui é assim”, é<br />

um desrespeito à cultura desses cidadãos ingleses de cultura e religião islâmica. Mas, por<br />

outro lado, se coloca a questão dos princípios universais dos direitos do homem, no que<br />

toque a liberdade de expressão e de escolha e em nome dos quais não se podia aceitar a<br />

conde<strong>na</strong>ção e, mais do que isso, o homicídio.<br />

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