Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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e vê no ideário da mestiçagem não ape<strong>na</strong>s uma ideologia, manipulada pelo Estado e pelas<br />
elites com o propósito de legitimação de uma ordem social iníqua”. (Costa, 2002, p. 110)<br />
A visão de Fry é ilustrativa ao afirmar que a mistura não conduziu ao ocultamento<br />
do racismo, mas deu origem a uma<br />
“tensão entre os ideais da mistura e do não-racialismo (ou seja, a recusa<br />
de reconhecer “raça” como categoria de significação <strong>na</strong> distribuição de<br />
juízos morais ou de bens e privilégios) por um lado, e as velhas hierarquias<br />
raciais que datam do século XIX, de outro. O primeiro ideal,<br />
freqüentemente chamado de “democracia racial”, é considerado<br />
politicamente correto (ninguém quer ser chamado de racista). A outra<br />
idéia, a da inferioridade dos negros, é considerada nefasta, porém<br />
reconhecida como largamente difundida. (…) Vista dessa maneira, a<br />
democracia racial é um mito no sentido antropológico do termo: uma<br />
afirmação ritualizada de princípios considerados fundamentais à<br />
constituição da ordem social”. (Fry, 2001, p. 52; Costa 2002, p. 110)<br />
A segunda posição Costa denomi<strong>na</strong> de anti-racismo igualitarista e “vê <strong>na</strong> ideologia<br />
da mestiçagem e num de seus elementos, o mito da democracia racial, a explicação e a<br />
causa para persistência do racismo no Brasil” (Costa, 2002, p. 110). Guimarães, um dos<br />
autores centrais <strong>na</strong> defesa desta posição, observa que Freyre, ao construir o mito nos anos<br />
30, herdou da tradição de pensamento francesa a ambigüidade no tratamento da raça.<br />
Assim, Freyre romperia com o biologismo, mas não com a idéia de raça, uma vez que<br />
permaneceria em sua obra uma concepção eurocêntrica de embranquecimento.<br />
Para Guimarães, a produção intelectual posterior mostrou-se pouco atenta ao<br />
caráter racial do modelo de <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lidade cunhado nos anos 1930 em que o<br />
embranquecimento passou a<br />
“significar a capacidade da <strong>na</strong>ção brasileira (definida como uma extensão<br />
da civilização européia em que uma nova raça emergia) de absorver e<br />
integrar mestiços e pretos. Tal capacidade requer, de modo implícito, a<br />
concordância das pessoas de cor em renegar sua ancestralidade africa<strong>na</strong><br />
ou indíge<strong>na</strong>. “Embranquecimento” e “democracia racial” são, pois,<br />
conceitos de um novo discurso racialista”. (Guimarães, 1999, p. 53; Costa,<br />
2002, p. 111)<br />
O questio<strong>na</strong>mento a este discurso racialista realizado por Fer<strong>na</strong>ndes identificou<br />
o tratamento desigual como preconceito de cor e não de raça e denunciou o mito da<br />
democracia racial de uma forma em que o racismo dissolveu-se <strong>na</strong>s diferenças de classe,<br />
negando-lhe um caráter estrutural, genético, para as relações sociais (Costa, 2002, p. 111).<br />
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