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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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I. Breve histórico<br />

O ano de 2001 registra a irrupção, no espaço público e <strong>na</strong> agenda política do País,<br />

de um vigoroso debate acerca da oportunidade, necessidade e tipologia de políticas<br />

públicas de promoção da igualdade racial <strong>na</strong> sociedade brasileira.<br />

Medidas administrativas palpáveis – ainda que tímidas –, especialmente <strong>na</strong> esfera<br />

do governo federal, embora desprovidas de uma política, de uma orientação<br />

gover<strong>na</strong>mental, começaram a proliferar, fortalecendo a reivindicação por medidas positivas<br />

voltadas para a promoção da igualdade, há anos pleiteadas pelo Movimento Negro.<br />

A rigor, trata-se de um fenômeno que ganhou relevância a partir de 1995, ano em<br />

que as principais entidades e lideranças do Movimento Negro passaram a assumir<br />

abertamente a reivindicação por políticas de promoção da igualdade racial1 .<br />

Em novembro de 1995, os principais jor<strong>na</strong>is do País registravam a mais notável<br />

manifestação contemporânea de rua organizada pelo Movimento Negro brasileiro: a<br />

“Marcha Zumbi dos Palmares, Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida”, que, em 20<br />

novembro daquele ano, reuniu cerca de trinta mil pessoas em Brasília, ocasião <strong>na</strong> qual os<br />

coorde<strong>na</strong>dores do evento reuniram-se com o Presidente da República, entregando-lhe<br />

um documento pactuado entre as principais organizações e lideranças negras do País. No<br />

documento da “Marcha” pode-se ler: “Não basta, repetimos, a mera abstenção da prática<br />

discrimi<strong>na</strong>tória: impõem-se medidas eficazes de promoção da igualdade de oportunidade<br />

e respeito à diferença. (...) adoção de políticas de promoção da igualdade2 .<br />

O consenso em torno de políticas de promoção da igualdade, terminologia<br />

cunhada no aludido documento, representou algo de enorme importância, se levamos<br />

em consideração a influência de um certo pensamento de esquerda <strong>na</strong> concepção e prática<br />

do Movimento Negro, em função da qual uma parcela importante da liderança via com<br />

desconfiança a reivindicação por políticas de inclusão racial – tidas como “integracionistas”<br />

e supostamente divorciadas de uma proposta mais radical de transformação social.<br />

Fato é que a “Marcha” representou não ape<strong>na</strong>s um promissor momento de ação<br />

unificada do conjunto da militância, como também marcou a eleição da proposta de<br />

1 Note-se que já no início dos noventa, mais precisamente a partir de 1992, um grupo de ativistas do Núcleo de<br />

Consciência Negra da Universidade de São Paulo, liderados por Fer<strong>na</strong>ndo Conceição, intelectual e militante negro,<br />

chegou a realizar atos políticos e inclusive a propor uma ação judicial postulando reparação pecuniária aos<br />

negros brasileiros, em razão dos prejuízos causados pelo escravismo.<br />

2 Por uma Política Nacio<strong>na</strong>l de Combate ao Racismo e à Desigualdade Racial: Marcha Zumbi Contra o Racismo,<br />

pela Cidadania e a Vida. Brasília: Cultura Gráfica e Editora Ltda., 1996, pp. 23 e 26.<br />

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