Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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As regulações através das quais a nossa sociedade “fabrica” a identidade do negro<br />
são fundamentalmente vinculadas ao racismo e ao legado da escravidão. As regulações<br />
da identidade do índio se vinculam ao etnocentrismo associado à ideia de primitivo.<br />
Embora os índios tenham sido também escravizados, o legado da escravidão não os atingiu<br />
de modo tão radical como os negros.<br />
O racismo é uma forma de etnocentrismo, todavia, associado mais diretamente à<br />
visão biologizada do evolucionismo social. O etnocentrismo e o racismo desumanizam,<br />
inferiorizam. O racismo comporta, porém, uma dimensão sutil de repulsão que o<br />
etnocentrismo generalista necessariamente não comporta. Embora o termo étnico índio<br />
assim como o termo negro tenham sido socialmente cunhados para apagar diferenças<br />
entre os diversos povos americanos e africanos, tor<strong>na</strong>ndo-os um classificador de fração<br />
de classe, o índio concreto é de modo geral associado a uma etnia particular, sua pertença<br />
a um povo é reconhecida. O reconhecimento da diferença étnica permite que se reconheça<br />
também pertinência cultural. O termo caboclo se aproxima, do ponto vista social, cultural<br />
e político do termo negro. Ambos desenraízam, despojam e subtraem dos atores sociais<br />
concretos tradições, valores e práticas de suas culturas ancestrais.<br />
As práticas e os valores culturais dos negros foram incorporados como produção<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l popular, reduzindo a diversidade dos afro-brasileiros à diferença racial,<br />
socialmente estigmatizada.<br />
Conseqüentemente, entre as políticas educacio<strong>na</strong>is de integração democrática<br />
das diversidades, algumas deverão contemplar problemas comuns à questão do negro e à<br />
questão do índio, outras deverão contemplar especificidades próprias de cada grupo.<br />
Creio que essas políticas deverão privilegiar uma <strong>educação</strong> de cultura, através<br />
de campanhas massivas e intensivas de “fabricação” contra-hegemônica de identidades<br />
de negros e índios como atores sociais partícipes do processo de construção do País. Para<br />
isso, entretanto, tor<strong>na</strong>m-se necessárias políticas afirmativas ostensivas de presença negra<br />
e presença índia <strong>na</strong>s mídias, de assunção às esferas decisórias, de cotas de vagas em<br />
escolas e, no caso dos negros, de quotas de empregos <strong>na</strong>s diversas atividades econômicas.<br />
Algumas políticas educacio<strong>na</strong>is, como sublinhei anteriormente, pretendem<br />
contemplar as especificidades das populações afro-brasileiras e das populações indíge<strong>na</strong>s.<br />
No caso das populações indíge<strong>na</strong>s, a questão do bilingüismo continua sendo<br />
uma questão crucial. Muitos povos indíge<strong>na</strong>s conservam sua língua, mas a tendência de<br />
perda é cada vez mais acentuada.<br />
No início da década de noventa, sob os auspícios da Fundação Interfas, realizouse<br />
em Buenos Aires um Encontro Interdiscipli<strong>na</strong>r Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l reunindo quase duas<br />
deze<strong>na</strong>s dos mais ilustres especialistas de diversos campos de conhecimento para refletir<br />
e dialogar sobre “Novos paradígimas, cultura e subjetividade” 5 .<br />
5 Os resultados desse encontro foram organizados e publicados por Schnitman (1996).<br />
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