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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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temática da diferença foi marcada por uma denúncia do humanismo abstrato e por uma<br />

colocação em causa correlativa dos ideais e dos valores que lhe eram solidários (crítica<br />

dos direitos do homem e do igualitarismo democrático, revalorização das sociedades<br />

pré-moder<strong>na</strong>s, de suas tradições e de suas hierarquias). Na ótica dessa ruptura com a<br />

dinâmica moder<strong>na</strong> de democratização, a exigência de pensar o outro por referência a<br />

uma identidade específica concebida em termos de essência foi também considerada<br />

como um grave fator de desumanização e de alie<strong>na</strong>ção.<br />

A convicção que anima as correntes românticas e comunitaristas é a de que os<br />

princípios da modernidade política e sua dinâmica individualista (liberal) teriam<br />

arrancado o homem de seus laços <strong>na</strong>turais (comunitários), ao fazer abstração de sua<br />

inscrição originária numa humanidade particular. Pelo contrário, é essa inscrição originária<br />

que seria preciso considerar como “propriamente huma<strong>na</strong>”, no sentido da fórmula de<br />

Aristóteles, segundo a qual “o homem é um animal político” e que significaria de fato que<br />

o homem é um animal definido por pertencer a uma comunidade <strong>na</strong> qual ele se reconhece<br />

e é reconhecido (Mesure, op. cit. p. 22).<br />

A questão fundamental que se coloca hoje é a de saber se “a representação<br />

democrática da identidade deve continuar a fazer abstração das diferenças ou deve integrálas<br />

no quadro de uma identidade diferenciada, integração sem a qual a metade da<br />

humanidade não se veria reconhecida <strong>na</strong>quilo que a diferencia? Trata-se de uma tarefa<br />

muito difícil que um humanismo realmente contemporâneo assumiria, tor<strong>na</strong>ndo seu o<br />

motivo de uma identidade diferenciada: tomar certo (como afirmação da diferença <strong>na</strong><br />

identidade) suas distâncias em relação ao humanismo <strong>na</strong>turalista ou essencialista, mas<br />

segundo uma démarche que embora não romântica e não comunitarista, permaneceria<br />

no terreno de um universalismo a reelaborar. A essa reelaboração corresponderia<br />

simbolicamente uma apreensão da humanidade levando em conta as duas exigências:<br />

reconhecer a alteridade do outro, concordando ao mesmo tempo sem reserva que ele<br />

partilha conosco, inteiramente, essa identidade específica que faz de cada ser humano<br />

um eu, isto é, uma subjetividade. Segundo uma primeira perspectiva, trata-se de liberar<br />

a humanidade inscrita em todo homem, considerando cada ser humano como irredutível<br />

a qualquer assi<strong>na</strong>ção, seja ela de uma <strong>na</strong>tureza particular ou de uma condição social<br />

<strong>na</strong>turalizada. A afirmação dessa irredutibilidade abre o humano à autonomia que é sua<br />

desti<strong>na</strong>ção ou vocação que seria negada pela atribuição reificante de uma qualquer<br />

determi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong>tural ou <strong>na</strong>turalizada. Ao mesmo tempo, ela ameaça o espaço da<br />

verdadeira universalidade huma<strong>na</strong> que é, não a universalidade de uma essência ou de<br />

uma <strong>na</strong>tureza, mas sim, ao contrário, a de uma capacidade de afastamento de toda essência<br />

ou de toda <strong>na</strong>tureza. Nessa única condição, a alteridade do outro é apreendida através da<br />

convicção de que ele se afirma ao mesmo título como nós, como sujeito (e não como um<br />

objeto ou um animal). Como nós, ele aparece não ser redutível a <strong>na</strong>da que o define e que<br />

ao definí-lo o separaria de nós – que essa separação seja do sexo, da raça, da cultura, da<br />

classe ou de grupo social, até mesmo da idade.<br />

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