14.04.2013 Views

Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Romão (2000) mostra, em estudo sobre política de reversão da <strong>educação</strong> racista,<br />

que a Lei de 1837 que dispunha sobre direito à instrução pública, no Rio de Janeiro,<br />

proibia a <strong>educação</strong> dos afrodescendentes. Em nossos dias, se a proibição legal deixou de<br />

ter validade, o racismo, o centralismo cultural do currículo, a <strong>na</strong>turalização da relação<br />

perversa pobreza e cor, tanto no meio escolar como nos processos pedagógicos, aliados a<br />

outros condicio<strong>na</strong>ntes sócio-econômico-culturais, favorecem a exclusão <strong>na</strong> medida em<br />

que fadam ao insucesso, obstaculizando o acesso de negros/as a cursos superiores, a<br />

melhores postos no mercado de trabalho, a níveis salariais compatíveis com o cargo ou<br />

função, enfim, a mais espaço no sistema de posições.<br />

De acordo com o IBGE (Censo de 1991), os afrodescendentes são 45,3% da<br />

população brasileira. De acordo com Carvalho e Segato (2002), o acesso da população<br />

negra à <strong>educação</strong> apresenta o seguinte quadro:<br />

• o a<strong>na</strong>lfabetismo atinge 20% de negros (contra 8,3% de brancos);<br />

• o a<strong>na</strong>lfabetismo funcio<strong>na</strong>l atinge 46,9% de negros (contra 26,4% de brancos);<br />

• 75,3% de adultos negros não completaram o ensino fundamental (contra 57%<br />

de brancos);<br />

• 84% de jovens negros de 18 a 23 anos não concluíram cursos de nível médio<br />

(contra 63% de brancos);<br />

• 3,3% dos jovens negros concluíram curso de nível médio (contra 12,9% de<br />

brancos);<br />

• 2% de jovens negros têm acesso à universidade (contra 98% de brancos).<br />

Carvalho e Segato oferecem outros indicadores relativos a anos de estudo,<br />

expectativa de vida, posição no sistema ocupacio<strong>na</strong>l, todos desfavoráveis aos negros.<br />

Alguns desses indicadores são particularmente instigantes: os afrodescendentes<br />

têm menos 2,3 anos de estudo do que os brancos pobres, têm menos 6 anos de expectativa<br />

de vida e têm os piores salários. Ora, esses dados colocam em xeque a pertinência do<br />

aporte teórico marxista, como referência suficiente <strong>na</strong> abordagem da diversidade como<br />

problema da e <strong>na</strong> <strong>educação</strong> do negro.<br />

O capital, como se sabe, não é em si racista, mas o modo capitalista de pensar<br />

incorpora o racismo às relações sociais de produção. Todavia, os conceitos de classe social<br />

e de ideologia não dão conta de explicar a situação dos afrodescendentes que os indicadores<br />

de acesso à <strong>educação</strong> nos revelam.<br />

As abordagens da teoria da <strong>educação</strong> como política cultural referenciadas no<br />

multiculturalismo crítico podem contribuir com algumas pistas que apontem<br />

possibilidades transformadoras.<br />

Discutindo a tendência de se explicar a cultura mediante uma generalização<br />

descritiva como uma vasta organização homogênea8 Garcia Castaño et al. (1997) deslocam<br />

o foco de inteligibilidade (em nível de percepto e concepto) da unidade abstrata da cultura<br />

8 Tradução livre do origi<strong>na</strong>l em espanhol.<br />

150

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!