Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pautado em discipli<strong>na</strong>s, fechado e desatualizado da realidade indíge<strong>na</strong>, o professor passa<br />
a desenvolver um papel de mero reprodutor do saber domi<strong>na</strong>nte. Entendemos que um<br />
currículo não se resume a uma grade de discipli<strong>na</strong>s, mas <strong>na</strong> busca de conhecimentos<br />
relevantes para nossa sobrevivência enquanto povos.<br />
Pensar o currículo <strong>na</strong>s escolas indíge<strong>na</strong>s é pensar a vida. Por exemplo, a temática<br />
da terra e preservação da biodiversidade está profundamente relacio<strong>na</strong>da à vida, à saúde,<br />
à existência dos povos indíge<strong>na</strong>s. Sem a terra, o ser “índio” é <strong>na</strong>da. A discussão <strong>na</strong> escola<br />
sobre estes assuntos é importante para que cada aluno indíge<strong>na</strong> conheça os seus direitos<br />
assegurados em lei. Neste sentido, o contexto fornece as temáticas a serem estudadas <strong>na</strong>s<br />
escolas, tor<strong>na</strong>ndo-as espaços de rituais de formação para a vida.<br />
São estes parâmetros pedagógicos contextuais que traduzem a identidade da<br />
<strong>educação</strong> escolar indíge<strong>na</strong>.<br />
1.3 - O processo histórico das lutas das lideranças por uma<br />
<strong>educação</strong> escolar indíge<strong>na</strong> e a construção dos fundamentos<br />
legais desta <strong>educação</strong> no Brasil<br />
É num contexto de assembléias, encontros e alianças com setores progressistas<br />
da sociedade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que os povos indíge<strong>na</strong>s garantem <strong>na</strong> Constituição brasileira<br />
importantes avanços no que se refere ao direito de uma <strong>educação</strong> diferenciada e bilíngüe.<br />
Neste período, década de 1980, a docência exercida pelos próprios professores<br />
indíge<strong>na</strong>s era um fato novo e reivindicatório. Formação de professores e mais escolas<br />
foram sendo ampliadas, bem como inúmeras produções em línguas indíge<strong>na</strong>s e<br />
interessantes <strong>experiências</strong> metodológicas de cunho político. Vale destacar a criação de<br />
várias organizações de professores, como a Organização Geral dos Professores Ticu<strong>na</strong><br />
Bilíngües - OGPTB e a Comissão dos Professores Indíge<strong>na</strong>s do Amazo<strong>na</strong>s, Roraima e<br />
Acre – COPIAR, atualmente Conselho dos Professores Indíge<strong>na</strong>s da Amazônia -<br />
COPIAM. As discussões políticas sobre uma <strong>educação</strong> de qualidade para os povos<br />
indíge<strong>na</strong>s foram se aprofundando em encontros regio<strong>na</strong>is e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is cada vez<br />
mais freqüentes.<br />
No estado de Roraima, os professores criaram a Organização dos Professores<br />
Indíge<strong>na</strong>s de Roraima – OPIR, no ano de 1990, fortalecendo um conjunto de reivindicações<br />
dos tuxauas por direitos históricos a serem reconhecidos no campo jurídico. Podemos<br />
dizer que este campo de luta proporcionou a criação, no ano de 1994, do Curso de<br />
Magistério Indíge<strong>na</strong> Parcelado. Neste mesmo ano, a COPIAR produziu a Declaração de<br />
Princípios, contendo 15 orientações de como deveria ser conduzida a política de<br />
implementação de uma nova escola para os indíge<strong>na</strong>s: a chamada Escola indíge<strong>na</strong>, a qual<br />
ganha dimensão oficial por meio de documentos importantes da política de <strong>educação</strong><br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, como a Lei de Diretrizes e Bases – LDB; resoluções e decretos e, por último, o<br />
134