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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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A razão dessas mudanças propostas não é – pelo menos principalmente – que a<br />

todos os estudantes pudessem faltar alguma coisa importante pela exclusão de um sexo<br />

ou de certas raças ou de certas culturas – mas sim para evitar que as mulheres e os<br />

estudantes dos grupos excluídos sofressem diretamente por omissão – uma imagem<br />

depreciativa de si mesmo, porque toda criatividade e todo valor parecem ligados aos<br />

machos de origem européia. Alargar e mudar o currículo escolar se tor<strong>na</strong> então essencial,<br />

não tão em nome de uma cultura mais vasta para todo mundo, mas sim para dar o<br />

reconhecimento legítimo àqueles que até então eram excluídos. A idéia fundamental que<br />

sustenta essas demandas é a de que o reconhecimento possa forjar a identidade,<br />

particularmente <strong>na</strong> sua explicação fanonia<strong>na</strong>: “os grupos domi<strong>na</strong>ntes tendem a reforçar<br />

sua posição hegemônica ao inculcar uma imagem de inferioridade aos grupos submissos.<br />

A luta pela liberdade e igualdade deve então passar por uma nova revisão dessas imagens.<br />

Estimam-se que os cursos multiculturalistas ajudarão no processo de revisão (Taylor,<br />

Charles, op. cit. p., 90).<br />

Conclusão<br />

Podermos viver juntos? Iguais e diferentes. Tal é o título muito sugestivo do livro<br />

de Alain Touraine publicado em 1997. Sem dúvida, este título remete diretamente à<br />

realidade de muitos países ocidentais, em especial a França, país do próprio autor. Naqueles<br />

países, alguns argumentos políticos defendem a idéia de que “a distância entre certas<br />

culturas é tão grande que não há como elas se entenderem. Por isso, não devem ser<br />

misturadas, pelo contrário, devem, ou serem afastasas uma da outra em territórios<br />

separados ou em espaços segregados, ou devem ser colocadas numa relação de domi<strong>na</strong>ção<br />

–subordi<strong>na</strong>ção claramente definida como foi no sistema colonial. Essa é uma concepção<br />

holística que dá uma nova forma ao racismo hoje <strong>na</strong>queles países. Ela conduz a julgar<br />

inevitáveis, até mesmo desejáveis, as guerras entre as culturas e religiões ou a organizar a<br />

segregação das culturas minoritárias.<br />

Mas podemos abando<strong>na</strong>r a mistura de horizontes, que foi nossa abordagem até<br />

agora, para voltar para casa, <strong>na</strong> sociedade brasileira <strong>na</strong> qual estamos todos concretamente<br />

inseridos. Acho que as culturas produzidas por várias comunidades não vivem em<br />

territórios segregados. Salvo a realidade das sociedades indíge<strong>na</strong>s com as quais não<br />

convivemos, penso que no Brasil contemporâneo existe um processo de transculturação<br />

inegável. Visto deste ângulo, aqui as cercas das identidades vacilam, os deuses se tocam,<br />

os sangues se misturam. Mas nem por isso devemos sustentar a idéia de uma identidade<br />

mestiça que seria uma espécie de identidade legitimadora, ideologicamente projetada<br />

para recuperar o mito de democracia racial. Par construir uma unidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l não é<br />

preciso uma unidade cultural. Alguns exemplos extremos mostram isso. Os Estados<br />

Unidos, país de uma grande diversidade cultural, e o Japão, país de grande homogeneidade<br />

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