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Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja

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abstração de suas diferenças atribuindo-lhes os direitos idênticos, ou, pelo contrário,<br />

atribuir direitos diferentes a indivíduos percebidos além de suas diferenças como<br />

constituindo pessoas ao mesmo título? Questão que Habermas levanta com razão quando<br />

sublinha a força que têm as sociedades democráticas para interrogar-se sobre os aspectos<br />

permanentes sob os quais convém tratar igualmente o que é igual e diferentemente o que<br />

é diferente”, enquanto que a própria modernidade política nos havia bem acostumado<br />

em tratar igualmente o que é diferente.<br />

Isto significa, porém, como o proclama Habermas, que é necessário mudar a<br />

concepção paradigmática do direito? Pelo menos é preciso ter a coragem, sem pretensão<br />

de nenhum tipo, abrir o dossiê (Habermas. L’intégration Républicaine. Essai de Théorie<br />

politique. Paris: Fayard, 1998, p. 285).<br />

O segundo terreno também em andamento consiste <strong>na</strong> necessidade,<br />

até <strong>na</strong> exigência, do reconhecimento público das identidades. Muitas correntes políticas<br />

atuais atuam em torno desta questão do reconhecimento. A necessidade, pode-se dizer,<br />

é uma das forças em obra atrás dos movimentos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas. Quanto à exigência,<br />

ela ocupa a primeira posição <strong>na</strong> política atual dos grupos minoritários ou subalternos,<br />

em certas formas de feminismo e <strong>na</strong>quilo que se chamam hoje de política do<br />

multiculturalismo.<br />

Neste último caso, a exigência de reconhecimento toma uma certa acuidade pelo<br />

fato dos supostos vínculos entre reconhecimento e identidade, onde este último termo<br />

desig<strong>na</strong> alguma coisa que se assemelha à percepção que as pessoas têm de si e das<br />

características fundamentais que as definem como seres humanos. “A tese é a de que<br />

nossa identidade é parcialmente formada pelo reconhecimento ou por sua ausência, ou<br />

ainda pela má percepção que os outros têm dela: uma pessoa ou um grupo de pessoas<br />

pode sofrer um prejuízo ou uma deformação real se as pessoas ou as sociedades que os<br />

rodeiam lhes devolvem uma imagem limitada, depreciativa ou desprezível deles mesmos.<br />

O não reconhecimento ou o reconhecimento i<strong>na</strong>dequado pode causar prejuízo ou uma<br />

deformação de opressão, ao aprisio<strong>na</strong>r alguns num modo de ser falso, deformado e<br />

reduzido” (Taylor, Charles. Multiculturalisme. Différence et Démocratie. Paris: Aubier, 1994,<br />

pp.41-42).<br />

Neste sentido, certas feministas têm adiantado que as mulheres em algumas<br />

sociedades patriarcais foram ameaçadas para adotar uma imagem depreciativa delas<br />

mesmas. Elas interiorizaram a imagem da inferioridade contra elas forjada, de tal modo<br />

que mesmo desaparecendo alguns obstáculos objetivos à sua progressão, elas podem<br />

permanecer incapazes de tirar proveito dessas novas possibilidades. Além disso, elas são<br />

conde<strong>na</strong>das a sofrer a tortura de uma baixa estima de si. Uma análise parecida foi feita a<br />

respeito dos negros: durante gerações a sociedade branca tem feito deles uma imagem<br />

depreciativa à qual alguns deles não tiveram força para resistir. Deste ponto de vista, essa<br />

autodepreciação tor<strong>na</strong>-se uma das armas mais eficazes de sua própria opressão. Seu<br />

primeiro objetivo deveria ser o de desembaraçar-se dessa identidade imposta destrutiva.<br />

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