Diversidade na educação : reflexões e experiências - Cereja
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É provável que todos concordem que a questão do racismo está <strong>na</strong> ordem do dia<br />
e nos remete ao mais moderno debate sobre os problemas, especificidades e contradições<br />
existentes <strong>na</strong>s democracias moder<strong>na</strong>s. Um dos aspectos centrais deste debate é,<br />
precisamente, como compatibilizar as proposições generalizantes de conteúdo<br />
universalista da democracia liberal com a exigência de respeito à diferença perseguida<br />
incessantemente por grupos e movimentos sociais feministas, étnicos e raciais.<br />
Os cientistas sociais têm mantido, por muitos anos, que a industrialização e as<br />
forças da modernização tenderiam a diminuir o significado de raça e etnicidade em<br />
sociedades heterogêneas (Deutscher, 1966). Eles pensavam que com o desmantelamento<br />
de peque<strong>na</strong>s unidades sociais particularistas e a emergência de grandes e extensas<br />
instituições burocráticas impessoais, as lealdades pessoais (e dos povos) e identidade<br />
seriam primariamente direcio<strong>na</strong>das para o estado <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l mais que para comunidades<br />
racial e étnica. O desenvolvimento oposto, no entanto, parece ter caracterizado o mundo<br />
contemporâneo ressurgindo <strong>na</strong> forma de exigência de reconhecimento das diferenças.<br />
Quais são as evidências?<br />
Em <strong>na</strong>ções industrializadas, grupos étnicos aparentemente bem absorvidos<br />
<strong>na</strong>quelas sociedades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is têm enfatizado sua identidade cultural, novos grupos têm<br />
demandado reconhecimento político. Os exemplos são o movimento pelos direitos civis<br />
dos negros americanos <strong>na</strong> década de 60 e as várias manifestações racistas <strong>na</strong> europa nos<br />
anos 80, para muitos em decorrência das mudanças políticas e econômicas por que passou<br />
o continente.<br />
Para Souza, “essa tematização da diferença como constitutiva do mundo da<br />
política é um dos temas recorrentes do debate, domi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> ciência política e <strong>na</strong> filosofia<br />
social inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is contemporâneas nos últimos anos, e ainda relativamente pouco<br />
debatido entre nós, acerca da oposição liberalismo versus comunitarismo” (Souza,<br />
1996, p. 23).<br />
Apesar de suas várias nuances, o debate representa uma reconstrução para a<br />
teoria da democracia moder<strong>na</strong> e para a teoria política em geral, uma vez que aponta para<br />
as limitações da perspectiva domi<strong>na</strong>nte da teoria política vigente nos Estados Unidos e<br />
no Brasil. Para Souza, ao colocar o ponto de vista liberal como absoluto e indiscutível, tal<br />
perspectiva enfatiza uma concepção procedimental de democracia que se tornou<br />
domi<strong>na</strong>nte nos EUA do pós-guerra <strong>na</strong> esteira do texto clássico de Schumpeter intitulado<br />
Capitalism, socialism and democracy, de 1942, bem como <strong>na</strong> ciência política brasileira<br />
que se institucio<strong>na</strong>liza nessa época por meio de bolsas de estudos de pós-graduação. No<br />
cerne dessa concepção encontra-se o direito que os indivíduos têm de competir pelo voto<br />
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