Revista Economia n. 13.pmd - Faap
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“característica observada nas pessoas de exigirem um valor muito maior para<br />
desistirem de um objeto do que o valor que pagariam para adquirir o mesmo<br />
objeto” (p.10).<br />
A simulação divide-se em duas etapas. Na primeira etapa, os participantes<br />
de cada grupo foram divididos em três equipes em meio a dois cenários: (1) (1) um<br />
bastante favorável à economia brasileira, com boas perspectivas de lucros para<br />
as empresas; (2) (2) o cenário econômico sofre um revés, com as ações em forte<br />
queda, com tendência de queda para o dólar e para a taxa de juros dos títulos<br />
públicos.<br />
A primeira equipe recebe, no cenário 1, a quantia de R$ 130 mil para<br />
investimento em ativos financeiros (dólar, títulos públicos e ações da Gerdau,<br />
Bradesco, Telemar e Petrobras). A segunda equipe inicia a simulação no cenário<br />
2, recebendo R$ 100 mil em dinheiro para investimento. A terceira equipe inicia<br />
também no cenário 2, recebendo uma carteira de ativos igual à média da carteira<br />
dos participantes da primeira equipe. Frente ao cenário 2, espera-se a decisão<br />
racional de se investir em dólar. Este momento testa a tendência de manutenção12 .<br />
A segunda equipe, tendo em mãos dinheiro para aplicar nas alternativas que<br />
julgam mais interessantes, seria mais racional, sem influência de vieses<br />
comportamentais. Os sujeitos da primeira e terceira equipes, por já possuírem<br />
uma carteira, podem apresentar tendência de manutenção. Desta forma, a<br />
primeira equipe pode apresentar apego aos investimentos, uma vez que foram<br />
eles mesmos que selecionaram os ativos, enquanto a terceira equipe apenas<br />
recebeu a carteira já estruturada.<br />
Na segunda etapa, é apresentada aos participantes uma alternativa de<br />
investimento de alto risco e alto retorno. Aos sujeitos que recusaram a alternativa,<br />
informa-se o resultado positivo do investimento, oferecendo um investimento<br />
com retorno menor e risco maior. Caso um número significativo de investidores<br />
aceite esta possibilidade menos atrativa, fica comprovada a influência do<br />
arrependimento sobre os pressupostos racionais. A simulação termina para quem<br />
recusa os investimentos nas duas oportunidades. Para os que aceitaram o<br />
investimento em qualquer das oportunidades, apresenta-se uma situação de<br />
fracasso. Os participantes são divididos em dois grupos, e são apresentadas a eles<br />
duas alternativas de mesmo valor no que tange à racionalidade, mas a abordagem<br />
dada a cada grupo é diferente: (1) (1) ao primeiro grupo é dada ênfase no fato de o<br />
participante ter apenas 20% do valor investido, mas que existe a possibilidade de<br />
se investir novamente no mesmo produto, com a chance de ganhar 500%.<br />
Pergunta-se se investiria novamente, sim ou não. (2) (2) Ressalta-se ao segundo<br />
grupo que o investimento sofreu desvalorização de 80% e, se ele sair agora, terá<br />
realizado esta perda, enquanto há possibilidade de ele aguardar mais e sair sem<br />
perdas. Pergunta-se se aguarda ou desiste do investimento.<br />
Os sujeitos da pesquisa que não estão com suas carreiras estabilizadas, e<br />
mantêm vínculo com o meio acadêmico, não foram afetados pelo efeito doação.<br />
No entanto, os executivos dos segmentos financeiro e médico, com suas carreiras<br />
estabilizadas, sofreram influência do efeito doação: mantiveram as posições<br />
recebidas e papéis mais recomendados. Quanto ao efeito disposição, os sujeitos<br />
12 Os investidores evitam mudanças, agindo de forma conservadora e se apegando aos seus investimentos.<br />
(Decourt e Accorsi, 2005)<br />
Finanças Comportamentais no Brasil, Ricardo Jefferson Scotti, p. 170-189<br />
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