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Revista Economia n. 13.pmd - Faap

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Na mesma entrevista foi indagado de modo direto por Viereck: O senhor<br />

acredita em Deus? Vale a pena transcrever a resposta, mesmo que longa, pois<br />

explicita bem o pensamento de Einstein: “Não sou ateu. O problema aí envolvido<br />

é demasiado vasto para nossas mentes limitadas. Estamos na mesma situação de<br />

uma criancinha que entra em uma biblioteca repleta de livros em muitas línguas.<br />

A criança sabe que alguém deve ter escrito esses livros. Ela não sabe de que<br />

maneira, nem compreende os idiomas em que foram escritos. A criança tem<br />

uma forte suspeita de que há uma ordem misteriosa na organização dos livros,<br />

mas não sabe qual é essa ordem. É essa, parece-me, a atitude do ser humano,<br />

mesmo do mais inteligente, em relação a Deus. Vemos um universo<br />

maravilhosamente organizado e que obedece a certas leis; mas compreendemos<br />

essas leis apenas muito vagamente” (apud ISAACSON, p.396).<br />

Einstein não somente acreditava profundamente em Deus, mas criticava<br />

os ateus fundamentalistas. Em carta de 7 de agosto de 1941 escrevia: “Os ateus<br />

fanáticos são como escravos que continuam sentindo o peso das correntes que<br />

jogaram fora depois de muita luta. São criaturas que, em seu rancor contra a<br />

religião tradicional como sendo o ‘ópio das massas’ – não conseguem ouvir a<br />

música das esferas” (apud ISAACSON, p.400). Como a crença em Deus afetou<br />

Einstein? De duas maneiras, uma no âmbito da ciência e outra no campo pessoal.<br />

No terreno científico o preservou do relativismo, embora algumas pessoas, para<br />

desgosto e desespero de Einstein, tenham confundido relatividade com<br />

relativismo. Como argumenta Isaacson: “Einstein não era um relativista de<br />

verdade (...) Por trás de todas as teorias, inclusive a da relatividade, jazia uma<br />

busca por invariáveis, certezas absolutas. Havia uma realidade harmoniosa por<br />

trás das leis universais, Einstein acreditava, e a meta da ciência era revelá-la”<br />

(p.23). No plano pessoal, o reflexo da convicção da existência de Deus na sua<br />

personalidade foi sintetizado de modo extremamente feliz pelo seu biógrafo:<br />

“produzia nele uma mistura de confiança e humildade, com um toque de doce<br />

complexidade. Dada sua predisposição para ser autocentrado, essas eram graças<br />

positivas. Juntamente com seu senso de humor e sua autoconsciência que beirava<br />

a timidez, essas qualidades o ajudaram a evitar a presunção e o pedantismo que<br />

poderiam ter se apossado da mente mais famosa do mundo” (p. 395). Talvez<br />

por isso os cientistas que não acreditam em Deus apresentem no seu caráter os<br />

traços contrários a Einstein: desconfiança, orgulho, pedantismo e complexidade.<br />

A questão da existência de Deus produziu muitos tipos de reações em<br />

personagens do mundo acadêmico ao longo da história: entusiasmo, aversão,<br />

indiferença e também loucura. Em Einstein foi fonte de serena confiança, assim<br />

como de estímulo e motivação para seu trabalho científico. Como ele próprio<br />

escreveu: “Um espírito manifesta-se nas leis do universo – um espírito vastamente<br />

superior ao homem, e diante dele nós, com nossos modestos poderes, só podemos<br />

nos sentir humildes” (apud ISAACSON, p.560). Se, pelo contrário, a realidade<br />

e o universo são uma construção da mente, torna-se simples decretar a morte de<br />

Deus. O próximo passo é que o filósofo ou cientista usurpe o lugar de Deus.<br />

202<br />

<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008

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