Revista Economia n. 13.pmd - Faap
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Para contrapor-se a esses últimos, a aproximação com outras potências médias<br />
resultou, por exemplo, na constituição do G3 e no reconhecimento da China<br />
como livre mercado, mas sem receber a contrapartida necessária para ver<br />
atendidas as necessidades nacionais, ampliar seu espaço no mundo ou apoio<br />
para a demanda da cadeira permanente do CS/ONU.<br />
Caminhando sobre limites indefinidos, a política externa brasileira tem<br />
conseguido êxito em alguns aspectos. Entre esses, o de demonstrar vontade efetiva<br />
de projetar-se como país líder na região, ainda que obstáculos numerosos tenham<br />
surgido para dificultar sua ascensão. Os poucos resultados obtidos com as difíceis<br />
negociações realizadas em âmbito regional, com o ex-presidente argentino<br />
Nestor Kirchner, e as posturas mais agressivas dos vizinhos venezuelano Hugo<br />
Chavez e boliviano Evo Morales têm contribuído para minimizar relativamente<br />
o papel desempenhado pelo Brasil no cenário sul-americano. O ex-presidente<br />
argentino, dentro de seu estilo belicoso, costumava atacar não apenas o Brasil,<br />
mas também o Chile e o Uruguai, como fez em janeiro de 2007. E, embora<br />
adotasse esse comportamento, negociava com Lula, contrapondo-se à influência<br />
regional de Chavez, ao mesmo tempo em que realizava com este último outros<br />
acordos. Ou seja, implementou, a seu modo, uma política vigorosa na defesa<br />
dos interesses argentinos, do mesmo jeito que se comportam Brasil, Uruguai,<br />
Chile e Venezuela.<br />
Por outro lado, apesar das divergências com Washington, o governo brasileiro<br />
tem se apresentado mais confiável aos interesses do governo da Casa Branca do<br />
que seus parceiros desta parte do hemisfério. Não foi, portanto, gratuitamente<br />
que em janeiro do ano passado os Estados Unidos solicitaram intermediação do<br />
governo brasileiro junto à Índia, para que esta adotasse uma posição mais flexível<br />
na rodada de Doha.<br />
Com propostas que causam mais impacto do que resultados, apresentadas<br />
em reuniões como o Fórum Social Mundial ou em Davos, poucos dividendos<br />
têm sido colhidos em termos reais, além dos costumeiros elogios formais sobre<br />
as preocupações demonstradas pelo Brasil com os grandes problemas sociais do<br />
mundo, como a fome e as desigualdades. Entretanto, em vez de continuar sua<br />
trajetória ascendente de captação de apoio, por exemplo por meio de intelectuais<br />
ao redor do mundo, esses têm mostrado descrédito com os rumos tomados pelo<br />
governo brasileiro em suas políticas sociais e econômicas internas, contrariando<br />
as propostas e atendendo em primeiro lugar aos interesses internacionais. São<br />
conhecidas as afirmações de Lula de que nunca os empresários ganharam tanto<br />
nesse país, nisto sendo secundado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.<br />
Por isso, intelectuais do porte de Boaventura de Souza Santos e Noam Chomsky<br />
manifestaram-se frustrados, ao lado de inúmeros assessores da área social do<br />
governo, como frei Betto, que se demitiram ao longo de seu primeiro mandato.<br />
Na realidade, o governo adapta os discursos segundo as conveniências. Ao mesmo<br />
tempo em que prega autonomia e não subserviência, pratica políticas bastante<br />
distintas. Alie-se, ao lado das dificuldades no plano externo, as contestações dos<br />
próprios movimentos sociais que sempre apoiaram o governo e as freqüentes<br />
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<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008