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Revista Economia n. 13.pmd - Faap

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No parecer de Einstein, “todo o conhecimento da realidade parte da<br />

experiência e termina nela” (p.363). Esta simples assertiva afasta a metodologia<br />

de Einstein tanto do empirismo de Hume quanto do apriorismo de Kant,<br />

tornando-o próximo da metafísica de Aristóteles, um dos pais do realismo<br />

filosófico. Aristóteles fez da causalidade o eixo da sua compreensão da realidade<br />

e da ciência. Hume, ao deixar de lado o princípio de causalidade, elimina pela<br />

raiz a possibilidade de que a ciência formule leis necessárias e universais. O<br />

ceticismo é a conclusão lógica das premissas do filósofo escocês: “Estou – declara<br />

no fim da primeira parte do Tratado sobre a Natureza Humana – aflito e confuso<br />

pela desamparada solidão em que me deixa a minha filosofia”. Não admitir a<br />

possibilidade de juízos universais é negar, em última instância, a metafísica.<br />

Einstein, embora afirme ter estudado “com avidez e admiração o Tratado da<br />

Natureza Humana, pouco antes de descobrir a teoria da relatividade”, na prática<br />

está muito longe da filosofia empirista de Hume. Kant, influenciado pela leitura<br />

de Hume, também afirma que a experiência sensível não possui um valor absoluto<br />

e universal. Supera, entretanto, o ceticismo de Hume, afirmando que a<br />

causalidade não deriva da experiência sensível. O único fundamento possível<br />

para a causalidade encontra-se na estrutura formal da mente, como uma categoria<br />

a priori. Kant “liberta-se” da experiência para tornar-se, como tem sido objetado<br />

pela filosofia realista, “escravo do seu próprio pensamento”.<br />

Einstein, como sublinha Isaacson, “de início achou maravilhoso que certas<br />

verdades pudessem ser descobertas apenas pelo raciocínio. Mas logo passou a<br />

questionar a rígida distinção de Kant entre verdades analíticas e verdades sintéticas<br />

(...) Mais tarde ele rejeitaria cabalmente a distinção kantiana” (p.101). A<br />

libertação da experiência e da observação tem-se revelado uma carga<br />

insustentável para a ciência. Einstein jamais renunciou ao valor da experiência e<br />

defendeu o primado da realidade até o fim dos seus dias, como manifestam,<br />

principalmente, seus freqüentes desencontros com os defensores da mecânica<br />

quântica, principalmente com um dos seus mais importantes representantes,<br />

Niels Bohr. Entrar nos detalhes dessas discussões foge ao propósito deste artigo.<br />

A biografia de Isaacson resenha amplamente o debate. Após a Conferência Solvay<br />

de 1911, em que o foco era “o problema do quantum”, Isaacson comenta que<br />

“a partir dali, durante mais de quatro décadas, nas quais [Einstein] mencionaria<br />

seu desconforto com a teoria quântica, ele se parecia cada vez mais com um<br />

realista científico, alguém que acreditava existir na natureza uma realidade<br />

subjacente que era independente de nossa capacidade de observá-la ou medila”<br />

(p.185).<br />

A metodologia científica subjacente nas teorias desenvolvidas por Einstein<br />

está em sintonia com o princípio de causalidade desenvolvido por Aristóteles na<br />

sua Metafísica. O ponto de vista de Einstein está em harmonia com a definição<br />

de conhecimento científico de Aristóteles nos Analíticos Posteriores (Organon,<br />

I), em que o filósofo grego afirma: “consideramos ter alcançado o conhecimento<br />

científico de uma coisa (...) quando conhecemos a causa de que o fato depende”.<br />

200<br />

<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008

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