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Revista Economia n. 13.pmd - Faap

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Friedman era mais indutivo, de raciocionar dos fatos para a teoria, do que<br />

deduzir fatos a partir de teorias. Em um muito comentado ensaio, intitulado A<br />

metodologia da economia positiva, Friedman estabelece uma distinção entre<br />

economia positiva (que estuda o que é) e normativa (o que deve ser). É a distinção<br />

entre fato (que concerne ao mundo empírico) e valor (que observa escolhas). A<br />

capacidade de predizer para ele é fundamental, o que o colocava distante de<br />

economistas da linha austríaca, como Friedrich Hayek, por exemplo, que criticava<br />

a sua ênfase em estatística e na predição.<br />

Engana-se quem vê em Friedman um radical cabeça-dura com conceitos<br />

imutáveis. Seus pensamentos sobre impostos, gastos governamentais e déficit<br />

mudaram ao longo dos anos. E o livro de Lanny Ebenstein faz um bom trabalho<br />

em documentar o Friedman que considerava que um dos principais objetivos da<br />

economia era a igualdade de poder econômico ou que recomendava como<br />

método para controle da inflação o aumento de impostos e congelamento de<br />

preço, como em um depoimento ao Congresso em 7 de maio de 1942. Até<br />

mesmo o campo de estudo a que ele é mais associado, o monetarismo, surgiu na<br />

sua vida a partir da análise de dados, do estudo da real história econômica.<br />

Esse episódio é interessante, pois mostra o comportamento de um acadêmico<br />

com honestidade intelectual: busca interpretar o mundo real, diferente de torturar<br />

modelos para confessarem o que a sua teoria quer ver impressa. Trabalhando<br />

com Anna Jacobson Schwartz para o National Bureau of Economic Research,<br />

Friedman participou de um imenso trabalho de coleta e interpretação de dados<br />

sobre a história monetária dos Estados Unidos. Ao todo, foram sete anos de<br />

pesquisa. Para ele, o trabalho foi como um flash, iluminando aspectos que não<br />

eram percebidos. <strong>Economia</strong> monetária, até então, não era um campo que<br />

chamava a sua atenção. Ao coletar dados desse período, Friedman formulou<br />

uma nova explicação para a grande depressão iniciada em outubro de 1929,<br />

com o crash do mercado acionário norte-americano. Até então, a crise de 1929<br />

era vista como resultado dos problemas intrínsecos do capitalismo. Os dados a<br />

que os estudiosos chegaram mostravam que a crise foi resultado de mau<br />

gerenciamento da autoridade monetária dos Estados Unidos, contraindo o crédito<br />

quando deveria expandir, o que fomentou uma crise bancária e inúmeras falências.<br />

O outro mito, que Friedman ajudou a questionar com a obra A Monetary History<br />

of the United States, 1867-1960, foi o de que a crise foi salva pelo programa de<br />

gastos governamentais de Roosevelt. Para ele, esse tipo de política apenas<br />

prolongou o problema, além de ter dificultado o comércio exterior ao impor<br />

tarifas que acabaram restringindo compras internacionais norte-americanas.<br />

A partir de 1966 ele inicia uma coluna na Newsweek e se torna, cada vez<br />

mais, uma pessoa interessada em influir nos debates públicos. Atuou como<br />

consultor de governos dos presidentes Richard Nixon e Ronald Reagan. Tomou<br />

posições e foi criticado, muitas vezes injustamente. Uma das críticas mais<br />

freqüentes é a sua suposta participação na política econômica do Chile, durante<br />

a ditadura de Augusto Pinochet. Alunos seus, da Universidade de Chicago,<br />

voltaram ao país então governado por Pinochet e implantaram uma política<br />

econômica de liberalização. Entre 1957 e 1970, cerca de 100 estudantes chilenos<br />

192<br />

<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008

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